RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 25
sigilo da correspondência, das comunicações telegráficas e telefônicas, a
integridade física e moral dos detidos, a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes, a propriedade de bens, o livre exercício do
trabalho, a liberdade de reunião, de associação e de manifestação do
pensamento, são conquistas democráticas cujo zelo permanente precisa
fundamentar, de forma inequívoca, a conduta policial.
6- Austeridade, firmeza e eficiência, indispensáveis para que se leve a
bom termo o combate à criminalidade em nosso Estado, são valores que
não podem ser, operacional ou filosoficamente, confundidos com
arrogância, truculência ou arbítrio.
7- Restabelecer o princípio da autoridade, como reclama o enfrentamento
da aguda situação de insegurança a que está exposta a família
fluminense, é tarefa que não prescinde da credibilidade que as Polícias
Civil e Militar devem conquistar junto à comunidade.
8- A comunidade espera de suas polícias ação protetora e solidária
9- O Estado é consciente de que o dever do bom exemplo lhe compete e
saberá amparar suas polícias, tal e qual a população, sempre que suas
ações tenham seu ponto de equilíbrio e razão do ser no estrito
cumprimento da lei.
10- Compete ao Chefe da Polícia Civil e ao Comandante da Policia
Militar zelar para que tais princípios, conceitos e valores sejam
rigorosamente observados, com a transparência necessária à permanente
vigilância da opinião pública. (O Globo, 24/03/1987: 13).
Nos meses subsequentes a Cidade de Deus voltou a sofrer incursões trágicas por parte
da polícia militar. Os policiais do 18º BPM executaram no dia 23 de maio dois meninos
que caçavam pássaros na mata vizinha à favela. Em 23 de julho foi a vez da menina
Cássia, de treze anos, assassinada durante nova operação. Alguns dias antes, em 18 de
julho, na favela do Tuiti, em São Cristóvão, a menina Estela Márcia, de 13 anos, levou
um tiro do detetive José Paulo Burgos e morreu enquanto brincava na rua. O Secretário
de Polícia Civil, Marcos Heusi, classificou o episódio como um “lamentável acidente
de trabalho”. Na Mangueira o clima também era de terror. Poucos dias após a morte de
Marcellus, uma operação da Delegacia de Entorpecentes barbarizou a vida dos
moradores. Espancamentos. Casas invadidas. Seus poucos bens roubados ou destruídos.
Revoltados, os moradores solicitaram uma audiência com o governador, mas não foram
recebidos. Na semana seguinte, em 28 de março, uma nova operação, que contava com
50 policiais, diversos deles presentes também na incursão anterior, deixou um saldo de
cinco pessoas baleadas, sendo quatro menores de idade. O Secretário de Polícia Civil,
Marcos Heusi, se pronunciou da seguinte forma:
Os morros, não só o da Mangueira, viraram santuários de marginais e as
crianças estão sendo utilizadas como escudo pelos traficantes. Foi