RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 21

Especial repousou no problema concreto dos grupos de extermínio da Baixada e da dificuldade de se encontrar pessoas dispostas a fazer a denúncia. No início de abril, um policial militar conduziu a testemunha de uma série de crimes praticados por matadores em Belford Roxo, ao Secretário de Justiça, Vivaldo Barbosa. Ao colher seu depoimento, Vivaldo determinou a criação de uma Comissão Especial de Investigação, destinada a elucidar essa modalidade de crime. O grupo, formado por três delegados, dois coronéis do Estado Maior, um juiz e três promotores, passou a atuar em todos os casos de chacina e execuções dos municípios da Baixada. Em questão de dias o primeiro grupo de extermínio investigado pelo grupo foi desmontado. Dez policiais militares foram reconhecidos pelas testemunhas, acusados formalmente e tiveram prisão preventiva decretada. Além disso, Brizola determinou a exoneração dos comandantes de todos os Batalhões que tivessem policiais denunciados por formação de grupos de extermínio. Brizola demonstrava, com rapidez ímpar nesse tipo de caso, que os problemas relativos a atuação dos matadores na Baixada se relacionava intimamente com a vontade política de solucioná-los. Com apenas 80 dias de funcionamento, a Comissão Especial examinou 88 inquéritos, ouviu 317 testemunhas, ofereceu 21 denúncias e pediu a prisão preventiva de 30 acusados. Prólogo Apesar das iniciativas de caráter inédito que caracterizaram a política de segurança cidadã de Brizola, a cultura autoritária, ainda fresca nas formas de agir e pensar das corporações e da sociedade acabou prevalecendo. Dois fatores foram fundamentais para o desfecho negativo de sua administração. O primeiro deles foi o boicote dos policiais militares e civis, insatisfeitos com as mudanças de perspectiva da cúpula de segurança pública, mas, sobretudo, com o controle por ela exercido sobre as corporações. Diante desse contexto, parte substancial da Polícia Civil e Militar passou a fazer “corpo mole” no intuito de desestabilizar a política de direitos humanos de Leonel Brizola. O policial civil hoje trabalha apavorado. Já era fiscalizado pelo Chefe, pelo Juiz e agora é vigiado pelo Conselho dos Direitos Humanos. Se der um tapa num vagabundo, corre o risco de ser punido – queixa-se um Delegado com 38 anos de serviço, reconhecendo que, por isso, muitos fazem “corpo mole” [O Globo, 18/03/84].