Recente Presente - Breve história da imigração coreana em São Paulo Recente Presente | Page 25
tas vezes em terras que não estavam aptas para se morar,
sem dinheiro, sem perspectiva.
“Existe toda uma história de sofrimento, de tristeza, de per-
das, de depressão”, revela Natália Pak, 29 anos, web designer.
Sua fala reforça muito do que se encontra ao pesquisar
sobre a história e tocar no assunto com alguns coreanos, não
é fácil falar e se torna mais complicado ainda quando é pra
alguém que não faz parte disso. Talvez, seja daí que tenha
surgido a ideia errônea de que são um povo fechado. Fecha-
do não. Precavido.
“A gente veio de uma cultura que sofreu muita opressão e é
muito difícil de confiar nas pessoas fora daquele círculo. Até en-
tre a gente é difícil a gente se confiar”, explica Natália, sentada
tranquilamente em uma cadeira atrás do balcão de sua loja de
artigos da cultura pop coreana, localizada na Liberdade.
“Pelo menos do ponto de vista de um brasileiro é o
que deve parecer. Os possíveis motivos e as devidas explica-
ções são muitas, mas se eu tiver que escolher uma, acredito
que seja porque a colônia coreana de fato seja mais volta-
da para si mesma. Muitas crianças crescem apenas entre
outras crianças coreanas, o que acaba por fazê-los desacos-
tumados aos não-coreanos. Além disso, a cultura coreana
é diferente da brasileira quanto à privacidade, amizade,
as relações interpessoais, etc. O que para o brasileiro é ser
fechado, frio; para o coreano pode não ser e vice e versa”,
é o que conta, Jessica Kwak, 24 anos, em uma conversa
pela internet.
Fazendo parte desse círculo ou não, a preocupação exis-
te dos dois lados e Natália revela, que os próprios asiáticos,
não apenas coreanos, mas chineses e japoneses, conver-
sam muito entre si em grupos na internet sobre a apro-
ximação e o certo receio que sentem em relação a dis-
criminação. Os que não se encaixam dentro da cultura
oriental, não se aproximam muito por duas razões: preconceito
ou medo. Isso vale para os dois lados. O receio se faz presen-
te em cada um na hora de interagir, um certo frio na barriga
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