Raizes, Laços & Língua nº15 | Page 9

Comunidade dos Oito - Guiné-Bissau C A Realidade da Juventude na Guiné-Bissau so e aquela que assenta no vandalismo e na violência. Por outro lado, as escolas públicas estão constantemente em greve, pois os professores passam mais de seis meses sem receber salário. Acresce o déficit democrático que se vive no país. Apesar da independência ter sido declarada a 24 de Setembro de 1973, na Guiné- Bissau de hoje a democracia e a liberdade de expressão são inimigas do poder político. O país tem-se fechado sobre si mesmo, numa dinâmica de autodestruição, e este facto tem prejudicado o acesso dos jovens à informação, à educação e à cultura. Ao nível estatal a formação técnica é praticamente inexistente. O jovem, sobretudo na cidade, abandona o lar bastante cedo, ora para iniciar a sua família, ora porque é obrigado a procurar o seu sustento. Ao nível ministerial pouco se tem feito para dinamizar ou apoiar a juventude Guineense. Contudo, existem casos de sucesso de trabalho das ONG Guineenses com os jovens do meio rural e urbano na Guiné- Bissau. Com o apoio de ONGD portuguesas, as ONG guineenses têm construído infra-estruturas de carácter social (centros juvenis; infantis; escola de Arte e Ofícios em Bissau); dinamizado acções de envolvimento dos jovens com a comunidade (campanhas de recolha de lixos e sensibilização ambiental) e educando (apoio à formação técnica e apoio às escolinhas- estas são escolas privadas comunitárias em que os pais se cotizam para pagar aos professores e para que a escola funcione). Tem também sido apoiada e incentivada a participação e formação dos jovens ao nível das rádios comunitárias, que florescem por todo o país, sob o olhar atento e inibidos do poder central. Existem ainda programas de micro-crédito, que, de forma responsável, ajudam jovens, individualmente ou em grupo, a organizarem-se em torno de uma actividade produtiva. Existe uma formação em gestão de pequenos negócios e um acompanhamento técnico durante os primeiros tempos de implementação da actividade empresarial. As actividades apoiadas vão desde carpintaria em bambu, mecânica, comércio, costureira, entre outras. Ao nível da saúde e da educação para a saúde, nomeadamente em termos das campanhas das doenças sexualmente transmissíveis, em particular o HIV/SIDA, as ONG guineenses têm desenvolvido algumas acções, mas seria necessário haver um maior empenho do Ministério da Saúde, pois muito há a fazer nesta área. Com o apoio destas associações da sociedade civil, os jovens guineneses vivem um processo de autoconfiança e de redescoberta do seu papel de cidadão, num país desestruturado e que atravessa uma das piores crises económicas de sempre. Ter esperança na Guiné- Bissau de hoje é uma prova de coragem indiscutível. Ana Paula Fernandes om cerca de 1.345 mil habitantes, dados estimados de Julho de 2002, a Guiné - Bissau, pequeno país da África Ocidental, apresenta uma estrutura populacional bastante jovem. Na verdade, 41,9% da população tem entre 0-14 anos e 55,2% entre os 15 -66 anos. A taxa de desemprego é elevada, e as dinâmicas de investimento, privado e público, praticamente inexistentes. A força de trabalho está concentrada nos sectores mais tradicionais da economia, como a agricultura (82% da força de trabalho está concentrada neste sector), menos aliciante e menos rentável para os jovens. As infraestruturas sociais são inexistentes, particularmente na área da educação. Neste contexto é praticamente impossível fixar a força produtiva mais jovem no país e evitando a sua emigração. A grande maioria dos jovens guineenses emigram para países vizinhos ou mesmo para a Europa, em particular para Portugal. Nesses países vivem em condições muitas vezes consideradas deshumanas. As suas expectativas iniciais saem frequentem