UniversoABRIL 2014
IGREJA & COMUNICAÇÃO
O que a anunciação nos revela sobre a comunicação
Nas ações comunicativas da vida da
Igreja, o ano de 2014 estará marcado
pela “Comunicação a serviço de uma
autêntica cultura do encontro”. Esse é o
chamado do papa Francisco (1936-) em
sua primeira mensagem ao Dia Mundial
das Comunicações Sociais, que será
celebrado em 1º de junho. Antes disso, o
mês de março já nos reserva uma data
muito especial para refletir sobre a
comunicação entendida como encontro,
que, como afirma o pontífice, deve ser
cultivado por todos como forma de
garantia “a beleza, a bondade e a verdade
da comunicação”. Trata-se da festa da
Anunciação, celebrada em 25 de março,
exatamente nove meses antes do Natal.
O relato da Anunciação e da
Encarnação de Jesus (cf. Lc 1,26-38) é
um sinônimo de comunicação por
excelência. O diálogo entre o anjo e
Maria revela como construir a cultura do
encontro, que “requer que estejamos
dispostos não só a dar, mas também a
receber de outros”, como afirma o papa
Francisco. De acordo com ele, se “quem
comunica faz-se próximo”, então a
comunicação entre o anjo e Maria é pura
proximidade. Nesse relato, estão
presentes cinco eixos que, a meu ver,
balizam o entendimento sobre o que é
comunicação.
a) Primeiro eixo: comunicação é
construção de sentido. Sentido é aquilo
que a Tradição cristã chama de logos, ou
seja, razão, ordem, aquilo que dá
significado às coisas. Nos processos
inter-relacionais, estamos constantemente construindo sentido, ou seja,
dando significado à realidade, ao outro e
a nossa presença comum no mundo. E
isso tanto em “oferta” (quem fala)
quanto em “recepção” (quem escuta).
Cada pessoa constrói e oferta sentidos a
partir de seu ponto de vista, de seu lugar
de fala específico, de sua visão de
mundo. E quem recebe também constrói
sentido ao receber outros sentidos,
porque faz algo com aquilo que recebe;
concorda, discorda, aprofunda, amplia
etc. Por outro lado, a construção de
sentido, seja em oferta, seja em recepção, também depende do ambiente em
que se dá essa construção. Ninguém fala
ou escuta em um “limbo”, mas sim um
ambiente físico, cultural e social específico: em um verdadeiro ecossistema
comunicacional formado por pessoas,
símbolos, meios, contextos concretos. O
diálogo entre o anjo e Maria revela isso;
em uma aldeia desconhecida (Nazaré) de
uma região desconhecida (Galileia) à
época (uma verdadeira “periferia
existencial”). Por meio do anjo, Deus
fala a Maria, à qual oferta uma grande
alegria (“Alegra-te!”), dando-lhe
sentido a sua vida. No mais íntimo de seu
ser, ela acolherá a presença divina e a
conceberá ao mundo. O anjo chama-a
pelo nome (Não temas, Maria”), reconhecendo-a como pessoa. Sua existência
ganha significado. Ao acolher e receber
em seu coração o que Deus lhe prometia,
realiza-se em Maria a construção de
“Sentido” por excelência, a encarnação
divina na vida humana.
b) Segundo eixo: comunicação é
diálogo e discurso em relação de equilíbrio. O filósofo tcheco-brasileiro Vilém
Flusser (1920-1991) afirmava que só há
comunicação quando existe “um
equilíbrio entre discurso e diálogo”. Para
que um diálogo tenha início, precisam
estar disponíveis as informações
recebidas em discursos anteriores; por
outro lado, para que um discurso aconteça, são necessárias informações produzidas em diálogos anteriores. Em suma,
um diálogo ocorre co m base em uma
série de discursos, os quais são a base
para qualquer diálogo. É a mesma
relação existente entre magistério e
ministério, termos tão ricos para a
vivência eclesial. Magistério é “estar
acima” (magis), conservar e comunicar
um determinado discurso. Ministério é
“estar abaixo” (minus), colocar-se no
mesmo nível do outro em diálogo.
Ambas as posturas também precisam
conviver em equilíbrio, para serem
eficazmente fecundas. No caso do relato
da Anunciação, o anjo traz a Maria (por
meio de um diálogo) o “discurso”
divino, o Verbo que se fará carne. Para
acolher esse discurso, Maria busca
aprofundar o diálogo, tem dúvida,
questiona (“Como vai acontecer isso, se
não vivo com nenhum homem?”). O
“magistério” divino encarna-se no
“ministério” de Jesus, já prenunciado no
gesto de um anjo que dialoga com uma
jovem nazarena. Ouvindo a resposta do
anjo (“O Espírito Santo virá sobre ti...
Para Deus nada é impossível”), Maria
acolhe a sua promessa e aposta a sua vida
(“Eis a escrava do Senhor. Faça-se em
mim segundo a tua palavra”).
Moisés Sbardelotto – Jornalista,
autor do livro E o verbo se fez bit: a
comunicação e a experiência religiosas
na Internet (Santuário).
O Mensageiro de Santo Antônio,
março de 2014.
Continua na próxima edição.
Leonor Dinardi Borges
“Ela deixou no coração de cada um de nós
uma lembrança viva e uma afeição
que jamais se apagará.”
12/01/1944
08/03/2014
Que a estrada se abra à sua frente.
Que o vento sopre levemente
em suas costas.
Que o sol brilhe morno
e suave em sua face.
Que a chuva caia de mansinho
em seus campos.
E, até que nos reencontremos de novo...
Que Deus lhe guarde
nas palmas das suas mãos.