Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 23

olhar, surpresa. Então, ela deu uma risadinha. Não conseguia se lembrar de quando fora a última vez que rira. Ele sorriu, fez um gesto em direção ao banco tra- seiro e ela riu alto. Mesmo na adolescência, ela de- testava os bancos traseiros de carros. Mas olhou ao redor, para as ruas vazias e os prédios destruídos, e então saiu e foi para o banco de trás. Ele deixou que colocasse o preservativo nele e pareceu ficar surpre- so com a avidez dela. Algum tempo depois, eles se sentaram juntos, cobertos com o casaco dele, sem vontade de se vestirem e tornarem-se quase estranhos tão cedo. Ele fez um gesto de embalar um bebê e olhou para ela, curioso. Ela engoliu em seco, balançou a cabeça. Não sabia como dizer a ele que suas crianças estavam mortas. Ele pegou a mão dela e fez um desenho com o dedo indicador, depois fez novamente o gesto de embalar um bebê. Ela assentiu, ergueu três dedos, depois virou o rosto, tentando impedir um fluxo repentino de lem- branças. Tinha dito a si mesma que as crianças que cresciam agora eram dignas de piedade. Percorriam os desfiladeiros do centro da cidade sem a verda- 18