Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 24
deira lembrança do que tinham sido os prédios ou
mesmo de como chegaram a sê-lo. As crianças de
hoje recolhiam livros como recolhiam galhos: para
queimar como combustível. Percorriam as ruas cor-
rendo umas atrás das outras e guinchando como
chimpanzés. Não tinham futuro. O que eram agora
era tudo o que poderiam ser.
Ele colocou a mão no ombro dela, e ela se virou
de repente, procurando desajeitada pela caixinha, e
depois incitando-o a fazer amor com ela outra vez.
Ele podia lhe dar esquecimento e prazer. Até agora,
nada tinha conseguido fazer isso. Até agora, cada dia
a aproximava mais do momento em que ela faria o
que tinha saído de casa para evitar: colocar a arma
na boca e puxar o gatilho.
Ela perguntou a Obsidian se ele viria para casa
com ela, ficaria com ela.
Ele pareceu surpreso e contente quando com-
preendeu. Mas não respondeu de imediato. Por fim,
balançou a cabeça, como ela temia que fizesse. Pro-
vavelmente estava se divertindo muito brincando
de polícia e ladrão e conquistando mulheres.
Ela se vestiu com um silêncio de decepção, in-
capaz de sentir qualquer raiva dele. Talvez ele já
tivesse uma esposa em casa. Era provável. A doen-
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