Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 9
O ônibus não partiu, mas Rye se afastou dele. Pre-
tendia esperar até que a confusão acabasse e subir
de novo, mas se houvesse tiros, queria ter a prote-
ção de uma árvore. Por isso, estava perto do meio-fio
quando um Ford azul acabado fez um retorno vindo
do outro lado da rua para parar na frente do ônibus.
Carros eram raros naqueles dias, tão raros quanto a
grave carência de combustível e de mecânicos com
pouca debilidade fazia com que fossem. Os carros
que ainda funcionavam tinham tantas chances de
serem usados como armas quanto de servirem para
transporte. Então, quando o motorista do Ford ace-
nou para Rye, ela se distanciou, cautelosa. O moto-
rista, um homem grande, jovem, de barba bem-feita,
com cabelo escuro e cheio, saiu do carro. Usava um
sobretudo longo e tinha um olhar de desconfiança
igual ao de Rye. Ela ficou a vários passos de distân-
cia, esperando para ver o que ele faria. O homem
olhou para o ônibus, que agora balançava por causa
da luta lá dentro, e depois para o pequeno grupo de
passageiros que tinha saltado. Por fim, olhou nova-
mente para Rye.
Ela retribuiu o olhar, com plena consciência da ve-
lha 45 automática que sua jaqueta escondia. Observou
as mãos dele.
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