Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 11

plos habitados. Religião, sim; clero, não. Certamente, as belas pessoas nuas podem simplesmente peram- bular, oferecendo-se, como manjares dos deuses, à fome dos necessitados e ao arrebatamento da carne. Que se juntem às procissões. Que os tamborins rever- berem sobre a cópula e a glória do desejo seja pro- clamada pelos gongos, e (um ponto não desprovido de importância) que os frutos desses prazerosos ri- tuais sejam amados e recebam o cuidado de todos. Uma coisa que sei que não existe em Omelas é culpa. Mas o que mais poderia existir? Pensei, em princí- pio, que não houvesse drogas, mas isso é puritanis- mo. Para quem gosta, a doçura tênue e insistente da drooz pode perfumar os caminhos da cidade; de iní- cio, a drooz leva grande leveza e clareza à mente e aos membros do corpo e, depois de algumas horas, a uma languidez onírica, por fim, a visões maravi- lhosas dos arcanos e dos segredos mais profundos do universo, além de estimular incrivelmente o prazer do sexo. E não vicia. Para os gostos mais modestos, acho que deve haver cerveja. O que mais, o que mais pertence à cidade jubilosa? Seguramente, a noção de vitória, a celebração da coragem. Mas, assim como fizemos com o clero, vamos abrir mão dos soldados. A alegria construída sobre o massacre bem-sucedido 6