Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 18
de saberem dessa existência que torna possível a
nobreza de sua arquitetura, a pungência de sua mú-
sica, a profundidade de sua ciência. É por causa da
criança que elas são tão gentis com crianças. Sabem
que se aquela que foi humilhada não estivesse lá, ge-
mendo na escuridão, a outra, flautista, não poderia
tocar uma música alegre enquanto as cavalgadoras
se alinhavam, em sua beleza, para a corrida sob o
sol da primeira manhã de verão.
E agora, vocês acreditam neles? Não são mais ve-
rossímeis? Mas há, ainda, mais uma coisa a dizer; e
esta é bastante inacreditável.
Às vezes, um dos meninos ou meninas adoles-
centes que vão ver a criança não volta para casa
para chorar ou sentir raiva, na verdade, sequer
volta para casa. Às vezes, também, um homem ou
uma mulher de muito mais idade fica em silêncio
por um ou dois dias e depois abandona sua casa. Es-
sas pessoas saem à rua e andam pela rua sozinhas.
Continuam caminhando e abandonam a cidade de
Omelas, atravessando seus belos portões. Cada um,
rapaz ou moça, homem ou mulher, segue só. A noite
cai; o viajante precisa percorrer as ruas habitadas,
em meio a casas com luz amarela nas janelas, até a
escuridão dos campos. Cada um sozinho, vão para
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