Primeira Edição da Revista Digital 1ª Edição Caras do Soyo | Page 9
- Essas tias meu deus!
À horas perambulando de batinas brancas,
naquela sala infernal, onde as febres das nossas
filhas exalam uma temperatura que faz o diabo
sair do inferno e jazer nos Himalaias. Aquela,
Onde as baratas cansaram-se de se esconder,
e de abuso, partilham as camas que já são
fininhas com os nossos filhos. A parede é suja de
vaidade aqui, o limpo é só quando houver visitas
importantes.
O calor vem com gosto a desespero. Me sentiria
incomodado se não estivesse engasgado
de angústia. Festejo num apetitoso jantar de
amargura, já lá vão ventos de esperança neste
banco dos diabos. O banco é o nosso colchão.
Pais aflitos de todo mundo, banhando a dor e a
desilusão.
Ao longe, ouve-se a máquina que ecoa o avisa:
Ainda não morreu. Toca para os ouvidos o som da
vida. Últimos suspiros. Sala triste. Clima pesado.
Camas pequenas, Para tantas almas grandes.
E elas, tão inocentes da
realidade, sorriem com tanta
naturalidade, talvez seja isto à
esperança: Sorrir no focinho das
dificuldades.
Criança: o principio de que
muito há por se viver. A doçura
que contrasta amargura do
senhor que deixou de acreditar.
Contentar-se com o destrato e
lutar a favor da morte quando
os vivos te recusam. Talvez a
vida seja isto: a criança contra
o velho, numa épica rixa de titãs
buscando o seu sentido.
As estrelas evadiram o céu e o
luar veio cá baixo fofocar nos
meus abraços. Era a noite, fria
e silenciosa finalmente. Apenas
os passos falam, no vai e vem
do escuro. Uma oração talvez
ajude, mas, para quem orar? Ao
Filho, ao Pai ou ao Npungu?
(sei lá)
Ao sono. Sim, talvez mergulhando
em suas entranhas encontre
o sonho que procuro: a paz, o
compromisso e respeito. Ver
minha filha bem tratada pela
equipa médica. Numa sala limpa
e organizada. Ela a sorrir junto de
outras crianças. Isto só acontece
no hospital dos meus sonhos.
Por: Nlando Tona
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