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maria voce
É nisso que consiste a singular grandeza do homem, de todo
homem, que deve, portanto, ser tratado de acordo com tão alta
dignidade6.
Ao lado dessa relação constitutiva do ser homem, que o define
enquanto relação com um outro distinto de si, com o Outro, que é
Deus, o texto bíblico revela outra relação igualmente fundamental. É a relação pessoal do homem com seu semelhante. “Deus
criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; homem e mulher ele os criou” (Gn 1,27).
A forma originária de comunhão com Deus alarga-se logo, incluindo em si a primeira forma de comunhão entre pessoas, aquela entre o homem e a mulher. De fato, é no interior da comunhão
com Deus que o homem pode reconhecer seu próprio rosto no
rosto de seu semelhante, também ele criado à imagem de Deus;
é no interior do diálogo com Deus que o homem pode dirigir-se a
outro homem dizendo-lhe “tu” e assim entrar, também com ele,
num diálogo de amor.
Mas essa expressão do Gênesis encerra um significado ainda
mais profundo e surpreendente. Com ela, o autor sagrado quer
dizer que Deus encontra o mais límpido reflexo criado de si – a
sua “imagem” – não tanto no homem individualmente, quanto na
relação inter-humana.
Um raio de luz abre-se sobre o próprio mistério de Deus, sobre
a íntima natureza do seu ser, deixando transparecer a íntima riqueza nela contida e à qual a revelação cristã daria, mais tarde, o
nome de Amor (cf. 1Jo 4,8.16), eterna e perfeita comunhão.
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6 Evidenciam-no, com extraordinário vigor, os Padres da Igreja. Dentre eles, João Crisóstomo
escrevia: “Quantos não só derrubam as imagens de Deus, mas até mesmo as pisoteiam! Quando
atormentas, maltratas, despojas ou abates um dos teus dependentes, não pisoteias a imagem de
Deus? Dirás a mim: ‘Mas o homem não é da mesma natureza de Deus!’ E com isso? […] Embora
não sendo da mesma natureza de Deus, os homens […] mesmo assim foram chamados imagem
de Deus e, só pelo seu nome, merecem a mesma honra” (Ad pop. Antioch. Hom. 3, in: João Crisóstomo, 1958, p. 114-115).