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maria voce
A eles faz-nos ficar particularmente atentos a voz abalizada do
papa Francisco, ao ele nos chamar à consciência de que a questão
decisiva posta diante de nós é antropológica3 e cuja solução ele vê
na promoção da “cultura do encontro”. Ou seja, uma cultura que
tomará forma a partir de nossa ida sem reservas ao encontro das
pessoas, sem medo de nos impelirmos até as muitas “periferias
existenciais” do mundo, para lá fazer chegar o testemunho do
amor fraterno, da solidariedade e da partilha.
Ora, é esse mesmo binômio – fraternidade e humanismo –
que qualifica de maneira pertinente também a contribuição de
Chiara Lubich.
Grande figura de mulher carismática do século xx, ela suscitou uma Obra que, conservando uma precisa imagem do homem, se volta para lançar, na humanidade de todas as latitudes,
sementes de vida evangélica que a acompanham em seu caminho rumo à fraternidade universal, invocada por Jesus: “Que
todos sejam um” (cf. Jo 17,21). É também graças a essa contribuição que, na história atual, se delineiam os traços de um novo
humanismo, os quais parecem valorizar o que o teólogo Hans
Urs von Balthasar afirma sobre o papel doutrinal dos grandes
carismas, dons e expressões do Espírito Santo, que não são “em
nenhum caso mera teoria, mas sempre também práxis viva”
(Balthasar, 1992, p. 22).
Não é, contudo, minha intenção, nesta sede, tratar especificamente do humanismo e da fraternidade, mas sim, procurar evidenciar aquela visão do homem que se esboça a partir do carisma de
Chiara e constitui a instância crítica e o princípio fecundante deles.
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3 “Esse momento de crise que estamos vivendo não consiste numa crise somente econômica, não é uma crise cultural. É uma crise do ser humano. O que pode ser destruído é o
ser humano, o ser humano que é imagem de Deus” (Francisco, 2013). Cf. também Evangelii
gaudium, nº 55, onde a atual “profunda crise antropológica” é identificada como “negação do
primado do ser humano”.