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destes, o universo seria apenas um fenômeno casual, resultante
da combinação acidental dos átomos, e destinado a desaparecer, cedo ou tarde. Lucrécio vislumbrava por toda parte os
sintomas do outono do mundo, prelúdio de sua decadência e
fim. Semelhantes idéias eram largamente difundidas não só no
Ocidente, como também na Índia e na China.
Mas a própria natureza do espírito do homem não permite
que ele se renda tão facilmente a esta idéia da insensatez do ser.
Assim, mesmo tendo perdido a fé em tudo, as pessoas se negavam
a ver a vida como um lampejo da matéria, seguido necessariamente
das trevas. Foi este o motivo por que os romanos, ao entrar em
contato com as religiões orientais, sentiram por elas uma atração
fortíssima. O Ocidente foi literalmente conquistado pelos mais
diferentes cultos estrangeiros: a deusa egípcia Ísis acolheu as rezas
dos súditos romanos da Britânia aos Bálcãs; em Roma, surgiram
sinagogas judaicas, templos da deusa-mãe Cibele, da Frígia, e do
deus persa Mitra. Pregadores errantes anunciavam verdades que
provinham das margens do Ganges, da Pártia e da Ásia Central.
As encenações sacras gregas, que prometiam aos participantes a
imortalidade e o conhecimento de mundos superiores, readquiriram popularidade. O ocultismo, a astrologia, a magia e todo
tipo de quiromancia encontraram adeptos fervorosos em todas as
classes sociais; a ânsia por fenômenos maravilhosos incrementou
as superstições e a charlatanice.
Diante de tal espetáculo, os que tinham propensão para o
ceticismo tiveram de perder por completo a esperança de conhecer o sentido da vida e certamente chegaram à conclusão de que
não existe resposta para a eterna indagação do homem: «O que é
a verdade?» Em resumo, a balbúrdia das idéias era total. Sob um
mesmo teto podiam conviver a mania por sensações místicas e o
agnosticismo absoluto, o anseio pela pureza e a debandada moral.
Não eram raras as famílias em que o pai se enclausurava em um
estóico desprezo pelas vaidades do mundo, a mãe freqüentava
assiduamente os ritos noturnos de seitas e o filho inventava sempre
novas fórmulas de prazer e procurava emoções fortes.
Em suma, o homem chegara a uma encruzilhada e ouvia vozes
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