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Não é de admirar, portanto, que os poetas da corte exaltassem
a pessoa de Augusto e não lhe poupassem elogios. Por outro lado, o
próprio César encorajava os bajuladores e mantinha a sua autoridade
com todos os expedientes. Pouco a pouco, a partir das províncias
orientais, começou a se alastrar o culto ao imperador, e logo foram
erguidos templos dedicados a Augusto em todo o Império. Por toda
parte, cantavam-se hinos sacros ao imperador, chamavam-no de “pai
da pátria” e soter, salvador das nações.
Este espetáculo da ascensão de um império tendo como cabeça
um homem-deus impressionava fortemente os povos da época. Não é
à-toa que se falava de “reino indestrutível”, fundado para todos os séculos. Para os povos subjugados, porém, tal perspectiva nada tinha
de rósea, e eles não se davam por vencidos. No final do reinado
de Augusto, ocorreram vários levantes em muitas províncias onde
o povo considerava Roma um opressor. Os judeus acreditavam que
Roma, a besta apocalíptica, logo cairia por obra da espada do Messias.
Os sucessos militares não evitaram os graves conflitos internos
em Roma. As propriedades rurais e as finanças concentravam-se
sempre mais nas mãos de uma oligarquia. Da Itália inteira, multidões
de camponeses caídos na miséria dirigiam-se para a Urbe, onde
viviam de recursos e subsídios do Estado. As intermináveis guerras
inundaram literalmente de escravos a capital (havia lá mais de um
milhão), que fomentavam freqüentes insurreições, buscando a
qualquer custo um meio de voltar à sua terra natal. Contudo,
estas vãs tentativas acabavam sistematicamente em repressões
cruéis, como aquela em que seis mil rebeldes foram crucificados
ao longo da estrada de Cápua até Roma, após os graves incidentes
dos gladiadores encabeçados por Espártaco.
A crise espiritual não era menos profunda. As antigas crenças e os mitos já arraigados em muita gente só provocavam risos. A
religião perdia o seu significado e era um mero dever cívico, como
tantos outros. Por outro lado, Cícero dissera inclusive que o culto
oficial só servia para tornar a ordem respeitada pelas massas.
Havia também intelectuais que iam mais além ainda. O
poeta Lucrécio via na religião um erro perigoso e, em seu livro De
rerum natura (Sobre a natureza das coisas), retomava o materialismo
dos filósofos gregos Demócrito e Epicuro. Segundo a doutrina
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