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1. Os Evangelhos: uma história de Jesus? Introdução Ao leitor comum dos Evangelhos é espontâneo pensar, sobretudo quando lê os textos narrativos, que os acontecimentos da vida de Jesus se deram assim como são descritos. Por muitos séculos foi convicção generalizada que os Evangelhos relatavam a vida pública de Jesus exatamente como ela se desenrolou na realidade histórica. Essa convicção foi reforçada pelo fato de os Evangelhos serem livros inspirados e, por isso, imunes a erros. Consideravam-se os Evangelhos um relatório do ministério de Cristo, escritos de uma só vez, com base em lembranças diretas de testemunhas oculares. Nessa ótica, era fundamental que tivessem sido escritos por apóstolostestemunhas (Mateus e João) ou, ao menos, por discípulos dos apóstolos (Marcos e Lucas). O estudo dos Evangelhos consistia, assim, no aprofundamento de seu conteúdo doutrinário e, quando necessário, na conciliação daquelas informações aparentemente contraditórias. Em fins do século XVIII, o modo de conceber as coisas mudou, sob o impulso da nova mentalidade que se difundia pela Europa — o humanismo e o racionalismo. Como conseqüência, os Evangelhos passaram a ser considerados não apenas livros inspirados — e por isso mesmo intocáveis —, mas também documentos históricos da antigüidade 7