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O historiador moderno diz que sua explicação é “verdadeira” quando consegue captar a exatidão cronológica de um acontecimento, quando sabe detectar suas causas e o descreve o mais objetivamente possível. O historiador antigo dizia que era “verdadeiro” quando lhe parecia ter captado o sentido, o valor e a lição contida no acontecimento. Por essa sua intenção fundamental, ele escolhia, desprezava, sublinhava, exagerava, omitia, talvez mesmo inventava detalhes e diálogos, para dar mais relevo ao significado do fato relatado. Para um evangelista, especificamente, a verdade não consistia na exatidão do descrito, mas em expor o significado autêntico (à luz da fé e para a vida cristã) dos fatos sobre Jesus. Os elementos narrativos de um relato evangélico estavam essencialmente a serviço desse significado (para a fé), e não visavam tanto à descrição objetiva do que aconteceu. Por isso, se o leitor de hoje quiser descobrir a intenção do autor sagrado, deve questionar o texto sobre o significado que ele contém. Se perguntarmos aos textos evangélicos se o que é narrado realmente aconteceu tal como está descrito, formulamos mal a pergunta (isto é, segundo uma mentalidade remanescente do posi­ti­vismo do século passado). O exegeta vê-se constrangido a responder: «Não sei!» Não por colocar em dúvida a realidade histórica que está na base da narração evangélica, mas por saber que o evangelista não pretendia descrever um fato histórico e, sim, comunicar o significado, para a fé e para a vida, da pessoa e da obra de Jesus, significado que transparece nesse fato. 14