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Os Evangelhos:
história interpretada pela fé para a fé
Os Evangelhos não relatam a história de
Jesus segundo os critérios de objetividade da
historiografia moderna. Esse fato — ou seja,
a impossibilidade prática de encontrar nos
Evangelhos uma descrição exata, imparcial,
cronológica e detalhada dos acontecimentos da
vida pública de Jesus — não deve, no entanto,
induzir ao pessimismo e levar à conclusão de
que entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, anunciado na Igreja e transmitido nos Evangelhos,
haja uma ruptura, um fosso intransponível e que,
por isso, nada podemos conhecer da autêntica
face do Jesus da história. Se assim fosse, os
Evangelhos se revelariam, em última análise,
um relato ideológico.
Os próprios evangelistas fizeram questão
de sublinhar que não há ruptura entre o Jesus
histórico e o Cristo da fé. A Igreja das origens
sempre afirmou e defendeu a identidade entre
Jesus de Nazaré e o Senhor ressuscitado. Há
uma clara continuidade entre o fato histórico
e a fé da comunidade cristã. A fé pós-pascal
não falsificou a face de Jesus. Aliás, ela não
é outra coisa senão uma compreensão aprofundada do Jesus histórico, graças ao evento
pascal que o ilumina.
Surge daí a verdadeira natureza e o interesse dos Evangelhos: não querem ser uma
biografia em sentido moderno, mas obras escritas por pessoas que crêem, a fim de alimentar
a fé em Cristo ressuscitado, vivo e presente na
comunidade.
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