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pensar mundo unido
nas uma de nós, tão próxima e tão pequena diante do Mistério, que
me surpreendi por tê-la pressentido tão grande, um momento antes.
O Sol tinha se posto, mas sua luz dourada enchia de tal forma
o céu, que parecia não haver mais sombra, mas apenas luz, no
sentido que ou a luz acariciava um elemento do panorama e o
iluminava, ou não existia nada. Aquela igreja, as chaminés das
fábricas e as casas de uma cidadezinha no vale eram materiali
zadas por aquela luz, como luz cristalizada. Não existia nada
além da luz; o resto desaparecia, era nada, não-existência e nada
mais. Tudo aquilo que os meus olhos viam, porque iluminado
por essa luz, era bonito. A feiúra, que está sempre perto da beleza e a estraga, estava ausente, insignificante.
Eu tinha a impressão de que meus olhos, cegados pelo Sol,
agora viam somente a beleza do mundo. E não só isso: com a
inteligência entendia que, sob uma outra luz, esse panorama seria
muito diferente. Percebia que era exatamente aquela luz que me
fazia ver bela toda a feiúra do mundo.
Essa experiência foi fundamental para a minha arte em duas
direções opostas: a partir daquele dia, cada beleza foi relativizada por essa visão de uma beleza incomparável; de outro lado,
desde aquele dia, sei que posso encontrar em qualquer lugar
uma semente de beleza. A arte tornou-se vã e, ao mesmo tempo,
encontrou uma profunda razão de ser. E se Deus vê, de fato, o
mundo assim, é urgente mostrá-lo aos homens como Ele o vê,
porque a sua verdadeira realidade é esta e não aquela que imaginamos. Mas percebi que tudo está na luz de Deus e na pureza
do olhar do homem. Diz-se que o olhar do santo é um olhar de
Deus sobre o mundo… Também nisso vejo uma semelhança do
artista com o santo.
Nos dias seguintes, fui para a casa de parentes em Bastia, na
Córsega, e pintei um quadro a óleo, um caderno de pequenas
aquarelas e diversas outras aquarelas, onde procurei expressar a
experiência de Ronchamp.
A técnica é fraca, mas é
evidente a mudança radical
em relação aos meus trabalhos
anteriores. Depois de um período
inteiro de pesquisas de contrastes em branco e preto,
eis a cor invadindo o papel.
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