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um itinerário para o diálogo
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de História do islã e reservasse para si o ensino da religião. Ora,
ele me deu toda a liberdade. A despeito do meu título oficial,
professor de teologia cristã e muçulmana, só ministrei, de fato,
cursos sobre o islã.
Apreciei muito essa confiança e essa abertura. Entre os
estudantes, havia cristãos e muçulmanos. Os que escolhiam o
ensino religioso como primeira opção não eram numerosos. Os
estudantes do segundo e do terceiro anos eram, na maioria, muçulmanos. Era realmente curioso que um padre católico ensinasse
o islamismo aos muçulmanos! Expliquei-lhes que estávamos num
contexto universitário e não numa atividade de catequese, e que
eles não eram obrigados a aceitar tudo o que eu lhes dissesse. Mas
acrescentei que, se me quisessem contestar, deveriam sustentar
suas idéias com argumentos sólidos e não apoiá-los na tradição
das famílias ou das comunidades deles.
A maior parte desses muçulmanos era indo-paquistaneses
de confissão ismailita*. Sem dúvida nenhuma, isso me ajudou.
Na qualidade de discípulos de Aga Khan, eles não conheciam
muita coisa da tradição sunita*, majoritária no islã. Podiam, então,
aprender comigo e eu, também, podia aprender com eles. Após a
expulsão dos ismailitas* da Uganda, em 1972, por Idi Amin Dada,
que se apossara do poder no ano anterior, mantive contato com
alguns deles.
— O fato de o senhor ser padre não foi, então, uma desvan
tagem?
Nunca escondi minha identidade de padre e freqüentava,
à vista de todos, a capela do campus universitário. Minha atitude
respeitosa para com a religião islâmica permitiu criar um clima de
confiança. Um dos meus alunos muçulmanos tornou-se professor
em Nairóbi, no Quênia, e depois foi enviado pelo atual presidente
da República da Uganda como embaixador na Arábia Saudita.