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Economia civil Mesmo sabendo de tudo isso, o técnico em economia sente-se ainda obrigado a negar à sua ciência o poder de oferecer critérios de escolha e, por conseguinte, a autoridade de dizer sim ou não ante qualquer fim que lhe venha proposto, com exceção, obviamente, das decisões que dizem respeito à mera factibilidade. Além disso, quando questionado se o conhecimento econômico deve ser juiz de seus objetivos ou mero executor, o purista responde escolhendo a segunda possibilidade. É a resposta do ascetismo científico, a que se atém em nome da pureza científica da economia. (1990, p. 142) Nós não nos reconhecemos nesse tipo de “ascetismo científico”, pois temos a convicção de que a razão científica pode desempenhar um papel na fundamentação dos valores, e que os valores e o conhecimento científico não têm, necessariamente, de se opor uns aos outros, como afirmou Pascal, na Idade Moderna, de modo persuasivo. 2. Antes de nos embrenharmos pela história em busca das raízes da economia civil — o que nos obrigará a escavar em profundidade, pois os elementos constitutivos dessa tradição não entraram na economia oficial —, pretendemos, neste primeiro capítulo, traçar os contornos do panorama político-institucional de referência no qual a discussão sobre a economia civil deve ser enquadrada. Atualmente contrapõem-se — em certos casos, entrando até em conflito — duas maneiras de conceber a relação entre a esfera econômica (que podemos sinteticamente chamar de mercado, na acepção ampla do termo) e a social (ou da solidariedade). De um lado, estão aqueles que veem na ampliação dos mercados e na propagação da lógica da eficiência a solução para todos os males sociais; de outro, estão os que interpretam o avanço dos mercados como uma ameaça para a vida social, e, por conseguinte, os combatem e deles se protegem. A primeira visão considera a empresa uma entidade “a-social”. Para essa concepção — que remete a tradições e interpretações, em maior ou menor medida distorcidas, da ideologia liberal —, o social é claramente distinto da mecânica do mercado, que se apresenta como uma instituição ética e socialmente neutra. O que se exige do mercado é a eficiência e, portanto, a geração de riquezas, o aumento do “bolo”. Já a solidariedade começa justamente onde o mercado termina, oferecendo critérios de ação política para a divisão do bolo e a distribuição de 18