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Economia
civil
reciprocidade e as virtudes civis. É uma tradição diferente daquela do Iluminismo francês — bem mais conhecida — e também daquela da economia política, desenvolvida na Inglaterra a partir do final do século xviii. Tentaremos
evidenciar essas diferenças, bem como as semelhanças. Mas temos, sobretudo,
a intenção de explicar as razões pelas quais, a partir dos primórdios do século
xix, a abordagem civil da economia começou a desaparecer do cenário público e do debate científico-cultural, como um rio cárstico, para voltar à superfície em épocas relativamente mais recentes.
De outro lado, com esta obra gostaríamos de contribuir para a abertura de uma ampla frente de reflexão a respeito da perspectiva sob a qual cabe encarar o variegado mundo das organizações sem fins lucrativos. Talvez interesse
ao leitor saber que a International Society for Third Sector Research, em seu
congresso realizado em Dublin em 2000, promoveu a unificação das expressões “organizações sem fins lucrativos”, “Terceiro Setor”, “organizações não governamentais”, fundações e organizações semelhantes, numa única definição, a
de “organizações da sociedade civil” (civil society organizations). Realmente, para
a maioria já ficou claro que, depois das brilhantes conquistas dos últimos vinte
e cinco anos, o mundo formado por essas organizações não poderá continuar
progredindo se evitar enfrentar questões fundamentais, como a do sentido. A
palavra “sentido”, como sabemos, é empregada em duas acepções: como significado (o sentido de uma proposição) e como direção (o sentido de um rio). A
acepção que aqui nos interessa é, sobretudo, a de direção ou orientação — até
porque a de significado já está suficientemente esclarecida. Sendo assim, nós
nos perguntaremos: para onde se dirige, para onde vai esse mundo vital a que
costumamos chamar Terceiro Setor?
Há duas posições dominantes.
De um lado, a daqueles que veem no Terceiro Setor a exceção à regra,
representada pelo papel central das organizações com fins lucrativos. Exceção
importante e admirável — bem entendido —, que precisa ser preservada, até
mesmo com o apoio específico do poder público — de caráter fiscal ou administrativo —, sempre que as vicissitudes dos ciclos econômicos ou certos efeitos perversos do processo do mercado ameaçarem empurrar os custos sociais
para além da fronteira da sustentabilidade política.
De outro, a daqueles que consideram o Terceiro Setor responsável por
ocultar — mediante ações sociais meramente cosméticas — realidades como
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