Preview dos produtos 5678023e92962708676526pdf | Página 15

caPítulo i UMA VISÃO DE CONJUNTO Desta época soberba que com vácua esperança inda se ilude, que busca a indiscrição, foge à virtude; tola que pede o útil, mas não vê sua vida assim fazer-se mais e mais inútil; sinto-me acima. (Giacomo Leopardi, O pensamento dominante, 59-652) 1. A expressão “economia civil” entrou, já há algum tempo, no circuito midiático italiano e internacional, com múltiplos significados, muitas vezes conflitantes. Há quem pense tratar-se de um sinônimo de economia social, enquanto outros acham que economia civil nada mais é do que uma denominação diferente da economia privada ou capitalista. Há, ainda, aqueles que a identificam com as organizações sem fins lucrativos ou com o Terceiro Setor; há até quem veja a economia civil como uma espécie de “cavalo de Troia”, empregado para minar os fundamentos do Estado do bem-estar social. Mal-entendidos como esses não só tornam difícil o processo de diálogo entre os que têm diferentes visões de mundo, mas também — o que é mais grave — a falta de conhecimento dos termos, em vez de induzir a uma sábia humildade intelectual, acaba com frequência alimentando preconceitos ideológicos e justificando fechamentos sectários. Este livro, que retoma e desenvolve temas e proposições apresentados por nós em diferentes oportunidades e lugares, tem dois objetivos. De um lado, revigorar uma tradição de pensamento, tipicamente italiana, cujas raízes afundam na Idade Média e no Humanismo Civil dos séculos xv e xvi. Uma tradição que se estendeu até o período de ouro do Iluminismo italiano, tanto da escola milanesa quanto da napolitana, e cuja principal característica é uma concepção do mercado que tem como cerne o princípio da 2 Trad. José Paulo Paes; in: Leopardi (1996, p. 261). 15