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O
desenvolvimento ou a degradação da harmonia em valor
de probabilidades e de riscos, baseada em que ela deve decidir. Decisão que não é tomada com o que costumamos chamar de “vontade”. Volto a meus queridos dicionários:
no novo e enorme dicionário filosófico do editor Routledge, lê-se sobre a palavra will
(vontade): “Uma faculdade outrora atribuída ao ser humano”. Trata-se de uma passagem que ocupa um quarto de página. Se estiverem interessados, recomendo que a consultem. Silja me fez entender o que acontece naquele instante exemplar – e que jamais
poderei “sentir” verdadeiramente nas vísceras –, o instante em que a mãe pensa que o
que vai nascer dela é uma entidade de valor, à qual é preciso aplicar uma reflexão sobre
possibilidades e riscos, um perfil dos riscos. Silja me fez entender até que ponto se trata
de uma traição.
Penso que, se quiserem refletir sobre a situação em que estamos – chamemo-la de “dúvida grave” sobre o desenvolvimento –, é preciso interessar-se pelo
conceito de “harmonia”. Matthias Rieger me fez entender que a música “era” um
arranjo de harmonias, e que foi Heinholtz, o Einstein do século xix, quem disse
que “essa idéia de harmonia não se aplica a um mundo onde o que era harmonia foi
transformado em valor”.
Esse valor, expresso em Hertz (Hz), transformou-se num confronto, em 1870,
entre Berlim e Paris, sobre se a base desse valor era, por exemplo, 440 Hz em vez de
445 Hz. Por essa razão, a arte pôde se tornar algo calculável. Gosto dessa música, sou
conquistado por essa música moderna, que é uma obra de arte, independentemente
de quem a ouve, que existe em si, constituída de tons, calculada, em oposição ao que
era ouvir, para os antigos: uma harmonia, uma relação entre a flauta e o ouvido.
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