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ENSINAR A NORMA CULTA AOS FALANTES NATIVOS
Ensinar a norma culta aos falantes nativos é tarefa ingrata e árdua, por razões
sobejamente conhecidas. Mas ensinar a língua pátria a falantes aloglotas é uma verdadeira
epopéia porque cada falante nativo se acredita senhor de competência profissional pelo fato
de ser possuidor da competência linguística. Nem sempre intuição do falante nativo é
acompanhada da explicação consciente dos fatos linguísticos, e o professor de português
para estrangeiros muitas vezes tem de enfrentar a aprendizagem desorientada pela influência
de terceiros. Além disso, o aprendiz eloglota tem de enfrentar os metaplasmos que ocorrem
na fala popular e que perturbam a sua aprendizagem: as aféreses (tá por está, por exemplo),
as haplologias (cal de cana por caldo de cana, por exemplo), as assimilações (salchicha
por salsicha), as hipérteses (tauba por tábua ou falcudade por faculdade), as síncopes
(cosquinhas por cóceguinhas) etc. O aloglota tem de enfrentar ainda a interferência da sua
própria língua na aprendizagem da língua estrangeira. Um francês por exemplo, e só para
citarmos um problema em nível fonológico, terá dificuldades em aprender a distinção em
sua língua nativa; já um espanhol terá de aprender a distinguir entre as vogais abertas e
fechadas do português, porque em seu sistema linguístico essa distinção não é funcional.
Foi pensando em todos esses problemas, que enfrentava em suas aulas de português
para estrangeiros na Universidade Federal do Espírito Santo, que a professora Ester Abreu
Vieira de Oliveira foi aperfeiçoando, na pratica, lições que agora resolveu reunir em livro para
adoção em sala de aula. Ao contrário de outras obras sobre o assunto, escritas em função de
um público monolíngue e com dificuldades até certo ponto homogêneas, este livro destina-se
a falantes de variada procedência e de hábitos linguísticos diversos. Esta é portanto, uma obra
de alcance mais geral, e mais universal, conforme atesta não só o glossário multilíngue que
compõe um dos seus vários anexos, mas também a abordagem cientifica e pedagógica de suas
lições, todas calcadas num princípio de dificuldade crescente e embasadas nas modernas
teorias da linguística aplicada ao ensino de línguas.
Assim, este livro apresenta um resumo extremamente sintético da gramatica portuguesa,
em anexo próprio, e, em suas lições didaticamente esquematizadas, volte-se, desde a orientação
sintática até a escolha de textos antológicos, para um estilo coloquial tenso (na terminologia de
Mattoso Câmara), que é o registro da fala corriqueira em situação menos formal, mas não
informal de todo, e que é mais frequentemente empregado na vida cotidiana e no ambiente
universitário a que se destina.
Uma obra criteriosa, portanto, indispensável ao aluno estrangeiro do português, e um
valioso instrumento de trabalho para professores de língua.
José Augusto de Carvalho
Doutor em Letras pela USP
Português para estrangeiros | Ester Ester Abreu V. de Oliveira
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