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PEDIDO DE CASAMENTO
Machado de Assis
Aproximava-se o dia da partida.
Eu estava decidido a pedir Ângela em casamento. Contava com a aquiescência do pai
e o agrado do tio.
O meu projeto era ir buscar o consentimento de minha mãe e voltar depois.
Ângela, a quem comuniquei isso, disse-me que não me separasse dela; que era melhor
escrever à minha mãe; que ela mesma escreveria, e bem assim o pai, diante do que minha mãe
não recusaria.
Não pude recusar este conselho.
Mas era preciso aproveitar tempo. Tratei de falar na primeira ocasião ao amigo doutor.
Uma tarde estávamos conversando no gabinete em que ele lia, e tratávamos
exatamente da minha futura.
— Não pretende voltar mais ao Rio de Janeiro?
— Pretendo.
— É promessa formal?
— Olhe lá!
— Com certeza.
— Sabe que sou seu amigo?
— Oh! sei, sim!
— Ora bem!
— Sei que é amigo e vou pedir-lhe mais uma prova de amizade e confiança.
— Qual é? Quer a lua? disse-me o velho sorrindo. Olhe, não desconfie; é pura brincadeira.
— O meu pedido...
E parei...
— Ah! disse o velho, creio que não é tão fácil assim...
— Doutor, continuei eu, amo sua filha...
— Ah!
Esta exclamação era fingida; percebi-o logo.
— E quer?
— E peço-lha para minha mulher.
— Ângela já me contou tudo.
— Ah! exclamei eu por minha vez.
— Tudo. Sei que se amam. E como negar aquilo que se lhes deve? Em meus braços, meu
filho!
Abracei o velho na doce expansão da felicidade que ele me acabava de dar.
Saímos do gabinete.
(Fragmento do Conto Felicidade pelo Casamento)
(in: — contos p.95-5)
Português para estrangeiros | Ester Ester Abreu V. de Oliveira
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