Português para estrangeiros Português para estrangeiros | Page 209

BILHETE: Rubião sentou-se na cama estremunhado, não reparou na letra do sobrescrito: abriu o bilhete, e leu: ‗‘Ficamos ontem muito inquietos, depois que o senhor saiu. Cristiano não vai lá agora, porque acordou tarde, e tem de ir ao inspetor da alfândega. Mande-nos dizer se passou melhor. Lembranças de Maria Benedita e da sua amiga e obrigada, Sofia‘‘. – Diga ao portador que espere. Daí a vinte minutos a resposta chegou à mão do moleque que trouxeram o bilhete; foi o próprio Rubião que lha entregou perguntando-lhe como tinha passado as senhoras. Soube que bem; deu-lhe dez tostões, recomendando-lhe que, quando precisasse de algum dinheiro, viesse procurá-lo. O rapaz, espantado, arregalou os olhos e prometeu todo. – Adeus! disse benevolamente o Rubião. E ficou parado, enquanto o portador descia aos poucos os degraus. Indo este a meio do jardim, ouviu bradar: – Espera! Voltou para acudir ao chamado; Rubião já tinha descido os degraus foram; um ao outro, e passaram, calados. Correram dois minutos sem que o Rubião abrisse a boca. Afinal, perguntou alguma coisa, – se a senhora tinha passado bem. Era a mesma pergunta de há pouco; o criado confirmou a resposta. Depois, Rubião deixou vagar os olhos pelo jardim. As rosas e as margaridas estavam lindas e frescas, alguns cravos desabrocharam, outras flores e folhagens begônias e trepadeiras, todo esse pequeno mundo para estender os olhos invisíveis ao Rubião, e bradar-lhe: – Alma sem vigor, acaba de uma vez com o teu desejo; colhe-nos, amando-nos... – Bem, disse finalmente Rubião, lembranças às senhoras. Não se esqueça do que lhe disse; precisando de mim, venha cá. Guardou a carta? – Está aqui, senhor. – É melhor metê-la no bolso, mas olha e não machuque. – Não machuco, não, senhor, retorquiu o criado acomodando a carta. (ASSIS, Machado de. Quincas Borba. 3 ed. - Rio de Janeiro: Jackson, 1957. p. 199-201). Português para estrangeiros | Ester Ester Abreu V. de Oliveira 209