Portugese - Mental health and gender based violene 2019 | Page 146

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Para compreender o trauma , temos de considerar não somente as nossas diferentes ‘ interpretações ’ de reações traumáticas , como também a maneira como mente e corpo são compreendidos e interpretados conforme o contexto cultural . É reconhecido que o ocidente separa a mente e o corpo , enquanto que muitas outras culturas ( na Ásia , por exemplo ) consideram mente e corpo como um todo , o que faz sintomas mentais aparecerem como sensações somáticas . Sobreviventes que não conseguem articular os seus traumas ou problemas mentais frequentemente descrevem os sintomas em termos de dor . A somatização é comum entre sobreviventes de países não-ocidentais . Dissociação é também um sintoma frequente de angústia pós-traumática em sociedades nãoocidentais , juntamente a depressão , desordens de humor e ansiedade , condições com as quais o ocidente está mais familiarizado .
PARTE III : TEORIA
Em muitos lugares , uma doença mental é considerada um estigma ou uma fraqueza de caráter . As vezes acredita-se que uma aflição mental é transmitida geneticamente , levando à crença que a sobrevivente que possui sintomas de trauma coloca a família toda em risco . Em outros lugares , o comportamento desorganizado , desrespeitoso e impulsivo de uma pessoa mentalmente doente envergonha a família . Em algumas culturas asiáticas , considera-se que angústia ou doença mental são causadas pela perda da alma ou pela possessão por espíritos malignos . Para os budistas , sofrimento é geralmente entendido como causa do próprio destino ( karma ), que resulta de ações feitas em vidas passadas .
Quando encontramos sobreviventes , temos de lidar , então , com inúmeras interpretações e entendimentos de reações traumáticas essencialmente idênticas . Quando abordamos sobreviventes que possuem um contexto cultural diferente , precisamos estar cientes de nossas próprias presunções e valores culturais , e também da possível presença de síndromes ligadas à cultura . Isso significa que ajudantes precisam ser bem sensíveis à cultura quando observam o comportamento das sobreviventes , e deve distinguir cultura e patologia o quanto for possível . Observação precisa e neutra é uma habilidade essencial . Uma capacidade de fazer questionamentos sensíveis sobre as rotina culturais , tradições e relações familiares das sobreviventes é outra .
Frequentemente , não é possível aprender o suficiente sobre a cultura e ambiente social . Em locais em que isso ocorrer , ajudantes podem convocar pessoas locais para explicar e ‘ traduzir ’ práticas culturais e ‘ códigos ’ locais . É importante ser sensível sobre esses relacionamentos também , pois mediadores podem ser eles próprios sobreviventes de traumas , que podem ser despertados ao auxiliar o ajudante .
Alguns problemas práticos
A maioria dos ajudantes humanitários não possuem experiência internacional , por conta de trabalharem por conta própria ou dentro do próprio país . Em termos de conselhos gerais , deve se certificar de que ajudantes :
• Estejam totalmente cientes a toda hora de implicações culturais na interpretação do trauma .
• Monitorem sintomas traumáticos nas pessoas locais que os ajudam .
• Monitorem as próprias reações .
• Estejam preparados para a possibilidade de que possam ser traumatizados novamente , ou indiretamente traumatizados , quando escutarem as histórias das sobreviventes que ajudam . O treinamento aqui pode ser especialmente importante para ajudantes locais .
Os seguintes conselhos podem auxiliar ajudantes a explorarem e lidarem com as dimensões culturais do trauma
• Explore interpretações de sofrimento e dor , e vida e morte , no grupo cultural dominante local .
• Se você não fala a língua fluentemente , admita as suas limitações e peça para que as sobreviventes avisem quando você falar algo inapropriado ou ofensivo .
• Esteja ciente de técnicas de comunicação culturalmente específicas ( contato visual , a integração de comida e bebida em discussões , o ritmo da conversa , linguagem corporal , etc .).
• Quando sobreviventes contam suas histórias , peça para que descrevam e expliquem suas reações para você .