Portugese - Mental health and gender based violene 2019 | Page 142

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2 . O legado do estupro . Crianças nascidas do estupro .

PARTE III : TEORIA
( Esse assunto não é discutido especificamente no treinamento .)
O estigma associado a ‘ crianças nascidas na guerra ’
Sabemos que violência sexual e violência baseada em gênero ferem gravemente as suas vítimas . Mais recentemente , foi reconhecido que violência sexual também tem um impacto devastador em famílias e comunidades , e afeta a sociedade como um todo . Mulheres estupradas frequentemente não denunciam esse tipo de violência pois isso faz com que elas sejam estigmatizadas . Porém , quando o estupro resulta em gravidez , ele não pode mais ser escondido . O termo ‘ crianças de guerra ’ é usado para se referir a crianças “ que são estigmatizadas porque suas mães tiveram uma relação com soldados aliados ou inimigos , ou funcionários de manutenção da paz ” ou “ nasceram como resultado de violência politizada usada como estratégia sexualizada de guerra ” ( Mochmann 2008 ). A segunda categoria é o principal foco da discussão aqui .
Ponto de partida
A maior parte do interesse acadêmico em violência à base de gênero se concentra em mulheres vítimas de trauma , no trauma delas , e nas consequências do estupro ( Roosendaal 2011 ). É dada menos atenção a crianças nascidas como resultado de tais estupros . É importante reconhecer essas crianças . Apesar de haver escassez de dados sistemáticos , Carpenter ( 2007 ) considera que a evidência disponível indica que ‘ crianças de guerra ’ geralmente encaram grave discriminação . Isso ocorre , às vezes , porque mães que se tornam grávidas ou dão a luz após o estupro enfrentam estigma e exclusão social . Além disso , a ligação maternal a crianças nascidas do estupro difere significativamente conforme a sociedades se está inserido , assim como o estigma social ao qual tais crianças são sujeitadas . Algumas crianças são amadas e aceitas , mas outras são rejeitadas tanto pelas mães como pela comunidade : algumas são vítimas de infanticídio . Tais diferenças de atitude ocorrem , provavelmente , devido a variações geográficas , culturais e estruturais específicas , e isso pode ser compreendido melhor em termos de tabus e mitos que cercam a gravidez e crianças . Ajudantes devem se esforçar para compreender esses fatores e leva-los em conta durante o trabalho .
Exemplos de estigmatização e discriminação
Aparentemente , crianças correm um risco maior de rejeição , estigmatização ou morte quando suas origens são identificáveis em sua aparência . Exemplos incluem as ‘ crianças Vietnamericanas ’ nascidas durante a Guerra do Vietnã como resultado de estupro ou outras formas de relacionamento , e as ‘ crianças de guerra ’ nascidas como consequência de estupros coletivos no Darfur . Em regiões onde etnia é menos politizada ou racializada , ou onde estupros não possuem dimensão étnica , ‘ crianças de guerra ’ podem se esconder com mais facilidade na população e é maior a probabilidade delas serem socialmente aceitas e serem criadas pelas mães . ( Carpenter 2007 ).
Em algumas sociedades , acredita-se que crianças nascidas de estupro herdam as características ‘ ruins ’ do pai , baseado na presunção de que a identidade é herdada do macho ( Mochmann 2008 ). Crianças concebidas pelo estupro durante o conflito na Bósnia-Herzegovina são chamadas de ‘ crianças Chetnik ’ ou ‘ sérvios bósnios ’, por exemplo ( Rosendaal 2011 ). Em outros lugares , crianças nascidas de estupro são descritas como ‘ crianças do demônio ’ ( Ruanda ), ‘ crianças da vergonha ’ ( Timor Leste ), ‘ bebês monstros ’ ( Nicarágua ), ‘ crianças do ódio ’ ( República Democrática do Congo ), e ‘ poeira da vida ’ ( bui doi , Vietnã ). Esses nomes humilhantes revelam como a sociedade enxerga essas crianças , e que elas são frequentemente associadas com o inimigo ( Mochmann 2008 ).