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PARTE III : TEORIA
No Sudão , vítimas de estupro são geralmente culpadas pelo próprio estupro , por conta de crer-se amplamente que mulheres não podem engravidar como resultado de sexo indesejado . Mulheres e homens no Darfur crescem aprendendo que o estupro pode ser evitado e prevenido . Na maioria dos casos , a mãe da criança nascida do estupro não pode mais casar , pois se espera que noivas sejam virgens . Vítimas de estupro e suas crianças são consideradas como pessoas que trouxeram vergonha à família , o que tende a ocasionar a exclusão de ambos . Até em comunidades que aceitem tais bebês , a criança pode ser julgada se demonstrar problemas comportamentais e pode ser abandonada .
O que precisa ser feito para resolver a discriminação contra crianças de guerra e suas mães ?
Não pode haver uma abordagem singular para esse problema , pois ‘ crianças de guerra ’ constituem um grupo bem diverso , tanto em suas circunstâncias quanto em suas criações . Roosendaal ( 2011 ) argumenta que é essencial abordar o problema de forma sensível por esse motivo . Tanto as mães quanto seus filhos necessitam e têm direito a receber ajuda psicológica para ajudar a lidar com a situação . Em termos práticos , programas de assistência devem garantir que ambos recebam o apoio adequado , e devem reconhecer que não se pode presumir que mães cuidarão de suas crianças ou serão capazes de fazê-lo ( Mochmann 2008 ).
Filhos de mulheres estupradas : consequências na interação entre mãe e filho
Guerra e estresse traumático atrapalham gravemente os esforços dos pais em manter as crianças seguras . Algumas evidências indicam que o trauma maternal afeta negativamente o desenvolvimento biológico e psicológico da criança ( Yehuda , Blair , Labinsky , e Bierer 2007 ) e o início da relação entre mãe e filho ( Almqvist e Broberg 1997 , 2003 ). Problemas de saúde mental parentais também impedem o desenvolvimento social de uma criança e aumentam o risco da criança sofrer de problemas mentais , especialmente se ela vive num contexto de violência e trauma ( Yule 2000 ).
A teoria do apego também é relevante a famílias vivendo em tais ambientes . Ela determina como crianças aprendem a procurar abrigo , regular medo e excitação , expressar emoções , e confiar em si próprias e nos outros em seus primeiros relacionamentos diádicos ( Bretherton 1992 ). Uma criança que tem relações seguras com adultos sensíveis e disponíveis consegue alcançar um equilíbrio entre exploração e contenção emocional . Por contraste , crianças que buscam proteção em si próprias tendem a evitar riscos , e crianças ambivalentes tendem a se apegar a adultos para obter uma sensação de segurança .
Pais traumatizados , na maior parte , abstêm-se de interações com suas crianças , ou as protegem demais , por conta de seus próprios medos .
O conceito de ‘ transmissão de trauma intergeneracional ’ foi desenvolvido para descrever crianças que reagem à traumatização de seus pais de modo a desenvolver sintomas de trauma eles próprios ( Danieli 1998 ). Tais crianças não tiveram necessariamente experiências traumáticas ; o trauma é comunicado através do relacionamento diádico . Medo nos olhos da mãe é especialmente traumatizante para crianças , e mães traumatizadas frequentemente ficam sem energia , expressam emoções rasas e se distanciam de relacionamentos . Os pais podem ser insensíveis , podem estar em negação , ou sobrecarregados por suas lembranças , e podem oscilar entre alheamento e interação diádica intrusiva com suas crianças ( Punamaki , Qouta , El Sarraj , e Montgomery 2006 ). Quando um trauma é processado positivamente , as emoções fragmentadas que ele gera são integradas gradualmente . Ajudar as mães a processar suas memórias traumáticas é , portanto , muito importante para o desenvolvimento de suas crianças .