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Falar sobre depressão nunca foi um assunto fácil para mim. A princípio, acredito que seja porque não é natural do ser humano assumir suas fraquezas. O medo de ser julgada como alguém fraca, dramática, e exagerada muitas vezes conseguia ser maior do que a vontade de pedir ajuda. Hoje, após oito quilos perdidos, incontáveis crises de ansiedade, inúmeras noites em claro e duas tentativas de suicídio, felizmente não me vejo mais como uma pessoa frágil, e aqui eu te conto o porquê.

Durante sete anos da minha existência eu tenho convivido com uma doença tão forte que muitas vezes parecia, e ainda parece, que uma outra pessoa existe dentro de mim. E como se não bastasse dividir um espaço tão pequeno com essa incansável hóspede, ela trouxe amigas: a ansiedade, a insegurança e a solitude. Essas inúmeras sensações faziam com que ao mesmo tempo em que não havia espaço para mais nada além disso em mim, um vazio horrível se instalava e crescia exponencialmente, não podendo ser preenchido.

Por mais clichê que possa parecer, usar esse espaço e tempo para escrever sobre tudo que a depressão me fez perder seria um desperdício. Então trago o foco para a coisa mais importante que perdi durante esses anos: eu mesma. Eu não possuo toda a verdade do mundo, mas posso dizer com toda a certeza que a pior coisa que já me aconteceu foi parar de me reconhecer. A lembrança de quem eu era ainda é nítida, e dói imensamente assistir aos sonhos de uma menina de 15 anos se desfazerem em virtude de algo que ela não escolheu. Dói ainda mais persistir tentando realizar objetivos planejados quando as coisas ainda eram normais, por sentir que a “antiga eu” merece ter seus sonhos conquistados, e por sentir que eu não sou capaz de projetar nada novo, justamente por não saber quem eu sou.

Assim, uma das maneiras de lidar com a falta de mim foi viver de acordo com outros: “cresça, estude, sorria, seja educada, siga o padrão, siga a corrente, vai dar tudo certo, não chore, tem gente pior do que você”. Todos os dias, por 6 anos e meio, essa foi minha vida. E seria mentira dizer que algumas coisas boas não resultaram disso. Eu conheci pessoas maravilhosas, eu tive momentos maravilhosos, até mesmo cheguei a sentir a tão famigerada felicidade.

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Por: TaináLobo

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