OPINIÃO
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Rola a Bola
Tiago Sardo
Desporto
Numa altura em que o futebol está assumido como um negócio e gastam-se rios de dinheiro em transferências, de forma a garantir nas suas fileiras os maiores galácticos mundiais, surgem problemas difíceis de resolver que vêm comprovar que o dinheiro ajuda, mas (ainda?) não resolve tudo.
O mercado deste verão fica inegavelmente marcado pela mudança de Neymar de Barcelona para Paris e por toda a polémica que isso trouxe antes e durante. No entanto, ninguém pensou nos problemas que isso traria depois.
As motivações de Neymar para sair do Barcelona foram pessoais. Foi o próprio que confessou isso. O brasileiro certamente quereria sair da sombra de Messi e tornar-se na estrela de um grande clube europeu, porventura, no novo Príncipe de Paris.
Ora, desde que o Paris Saint-Germain foi adquirido por um magnata do Qatar, que o dinheiro em transferências não tem sido pouco. Galáticos estão a chegar à capital francesa, muitos deles com o mesmo objetivo de Neymar. Estrelas como Cavani, Mbappé (também chegado este verão), Di María, Verratti, etc, ambicionam sucesso individual nas suas carreiras, projetando o seu futebol como um dos melhores do mundo.
O problema é que isto cria uma guerra de egos difícil de controlar. Nem todos os treinadores têm a capacidade de gerir um balneário composto por vedetas, em que todos querem dar nas vistas. Este problema colocou-se várias vezes no Real Madrid, praticamente sempre que Florentino Pérez assumiu a presidência do clube. Nesta última etapa da presidência (ou seja, de 2009 em diante), apenas por uma vez, na minha opinião, um treinador conseguiu gerir sem discussões e com sucesso coletivo um balneário repleto de estrelas: Zinedine Zidane. Nem Mourinho, nem Ancelotti (que ainda assim andaram lá perto), nem Pelegrini, nem Benítez.
Talvez por ter sido indubitavelmente um craque e por ter feito parte de um balneário que contava com Roberto Carlos, Beckham, Ronaldo O fenómeno, Raul Gonzalez, entre outros (primeira fase da presidência de Florentino Pérez), apenas Zidane tenha alguma facilidade em que todos se dêem bem e cooperem em prol da equipa.
Mas voltando ao caso PSG e Neymar, o que aconteceu em setembro, no jogo contra o Lyon, é a prova de que muitas vezes o individual coloca-se à frente do coletivo e as ambições pessoais à frente das da equipa. A discussão entre Cavani e Neymar foi triste de se ver e deve preocupar os adeptos parisienses e sobretudo o treinador Unai Emery. A discórdia sobre quem marcava um livre direto e um penalty passou do campo para os balneários e só não chegou a haver agressões físicas porque o capitão Thiago Silva e Marquinhos intervieram a tempo, separando ambos os jogadores, numa altura em que as coisas já estavam quentes. O brasileiro já deixou, inclusive, de seguir o uruguaio nas redes sociais e diz-se que já terá exigido (atenção, EXIGIDO) à direção do clube e ao treinador que Cavani deixe de fazer parte do plantel do Paris Saint-Germain.
Neymar sempre teve a fama de menino mimado e parece estar a confirmá-la agora. A partir do momento em que chega a um plantel cujas bolas paradas já têm dono, o brasileiro tem é que comer e calar como se diz na gíria. Ballotelli disse e muito bem: Neymar nem tem sequer que pedir a Cavani para as marcar! Quanto mais chatear-se por ele não deixar...
Problema bicudo para Unai Emery resolver, mas que, de certa forma, já se previa. Resta saber se o treinador espanhol tem mãozinhas para conduzir aquele balneário e meter Neymar no sítio ou, se ao invés, decide ceder aos caprichos do brasileiro, afetando todo um bom ambiente no balneário por causa de um jogador...
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Meninos mimados na escola e no futebol