Pontivírgula - Edição Março 2018 Pontivírgula - Edição de Março 2018 | Page 32

OPINIÃO

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Aqui e Agora

Teresa Mosqueira

Atualidade

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Putin: uma história sem final feliz

Foi há cerca de duas semanas que a Rússia assegurou, uma vez mais, o reinado de Vladimir Putin – o rei do despotismo que ameaça a segurança internacional. Este é o segundo mês consecutivo em que as armas surgem como principal foco de atenção nesta coluna endereçada à actualidade. Mas vamos por partes.

Putin está no poder desde 1999. Apesar de os seus dois primeiros mandatos como Presidente não terem sido seguidos, devido à lei então estabelecida, Putin nunca se afastou. Foi quem o substituiu na presidência entre 2008 e 2012, enquanto o ex-presidente desempenhava o cargo de Primeiro-Ministro. Hoje contabilizamos 18 anos de Putin no poder a moldar a Rússia à sua visão do mundo e a submetê-la à sua vontade. São 18 anos marcados pelo crescimento económico, mas também pelo afastamento da Democracia e do Ocidente. São 18 anos que serão 24. Se fizermos as contas, são apenas menos dois anos do que a duração do período estalinista. Quase um quarto de século.

Naquela que foi a sua quarta eleição para Presidente, o anterior chefe da KGB alcançou 76,7% dos votos. Pairam dúvidas face a esta reeleição: como é que o povo vota, uma vez mais, numa personalidade que não traz nada de novo nem revigorante e que não dá espaço à oposição? Várias foram as denúncias de irregularidades decorridas durante a eleição. Acredita-se numa pressão exercida sobre os eleitores para que fossem votar: vendo-se até obrigados a provar o seu deslocamento às urnas. É também de considerar que o uso da arma química contra o ex-expião Skripal foi feito dias antes das eleições presidenciais russas, algo que poderia comprometer – ou pelo menos abalar - a candidatura de Putin (será ele, de facto, inalcançável?). No mínimo, é curiosa a tão sólida vitória do candidato. Ultrapassou todas as expectativas. A sua vitória era óbvia, porém nunca a esta escala. Estaremos perante um controlo cada vez mais apertado da população russa e uma aniquilação da oposição ou, por outro lado, tratar-se-á este fenómeno de algo transparente e natural, estando os russos agradados com o status quo e o crescente distanciamento do resto do mundo? Não optemos por suposições ingénuas. É o regresso do autoritarismo.

O agravar das crises diplomáticas é outra constante no que toca à continuidade do putinismo. Enquanto Putin for o expoente máximo do poder no seu país, a Rússia intensificará cada vez mais a tensão com o Ocidente, não o poupando a ameaças frequentes.

«Acredita-se numa pressão exercida sobre os eleitores para que fossem votar: vendo-se até obrigados a provar o seu deslocamento às urnas»