Pontivírgula - Edição Março 2018 Pontivírgula - Edição de Março 2018 | 页面 10

Marielle, 39 anos, mulher, mãe, socióloga, vereadora e presidente foi no passado dia 14 de março assassinada enquanto estava com sua assessora e com o seu motorista, Anderson Pedro Mathias Gomes, que também foi morto a tiro.

Estava numa reunião com jovens negras, promovida pelo partido PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) do qual fazia parte, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, quando um carro que estava próximo do local da reunião, assim que a vereadora abandonou o local com o seu motorista e a sua assessora, os seguiu e intercetou. Logo de seguida, começaram a disparar vários tiros. A assessora foi a única vitima que sofreu apenas ferimentos ligeiros.

Mas quem era afinal Marielle Franco? Uma mulher que nasceu no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro. A partir dos 11 anos de idade começou a trabalhar para conseguir pagar os seus estudos. Depois de ter tido uma filha aos 19 anos integrou-se mais na sua comunidade através da defesa dos Direitos Humanos, dos LGTB, no apoio às mulheres negras e na luta contra os abusos policiais. Licenciou-se em Ciências Socias na Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e tirou um mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF). É um exemplo de como a superação através da educação é possível.

Ao longo da sua carreira política, sempre defendeu causas sociais e apelou à participação ativa das mulheres na política. Começou por ser assessora de um deputado, Marcelo Freixo, durante 10 anos, e, em 2006, foi eleita vereadora pela coligação “Mudar é Possível”, formada pelo PSOL.

Uma denúncia feita por Marielle, no sábado que antecedeu o crime, contra a violência do 41º Batalhão da Polícia Militar de Acari, num bairro da zona norte do Rio de Janeiro, foi posto em causa quando as balas que foram utilizadas no homicídio estavam registadas pela Polícia Militar. Este ataque tinha sido apontado pelo Instituto de Segurança Pública como o mais mortífero dos ataques ocorridos nos cinco anos anteriores, onde 154 pessoas morreram devido à ação policial, segundo dados do governo estadual.

Na quinta feira, um dia depois do homicídio, as manifestações começaram no Rio de Janeiro. Uma multidão reuniu-se junto da Câmara de Conselho do Rio de Janeiro, quando a cerimónia fúnebre de Marielle estava a acontecer no interior. Daquele aglomerado de pessoas faziam parte sindicalistas, feministas e moradores das comunidades mais pobres da cidade. Este acontecimento marcou mais uma de muitas mortes que todos os dias são a realidade do Brasil.

ATUALIDADE

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Marielle Franco, até onde o racismo nos pode levar?

Beatriz Martins

© Fábio Vieira/ Getty Images