Pontivírgula - Edição Maio 2018 Pontivírgula - Edição Maio 2018 | Page 5

Há dois anos acabaste a licenciatura na Católica, o que te levou a escolher comunicação?

Escolhi Comunicação um bocadinho porque era a única coisa que encaixava de todas as escolhas possíveis, isto para seguir uma linha reta que está incutida na nossa sociedade que é depois do secundário tenho de escolher uma licenciatura. Vi-me um bocadinho obrigada, pelos meus pais inclusive, a entrar na faculdade. Uma amiga minha falou-me em Comunicação e pareceu-me bem, foi assim que fui parar à Católica. Sempre gostei muito de escrever, principalmente sobre coisas de que gosto, e sempre fui muito comunicativa, adorava fazer apresentações.

Em relação a isso que disseste que a sociedade impõe, não sentes que também agora, que és licenciada, há alguma pressão para arranjar um estágio, um trabalho, ir para mestrado?

Claro, essa foi a maior pressão assim que acabei a licenciatura. Foi dizer à minha mãe: “olha, mãe, andei três anos a gastar o teu dinheiro e agora vou viajar”, só que foi o que senti necessidade na altura. Não quis seguir para mestrado porque estava cansada de estudar, não quis ir trabalhar porque todas as pessoas que conhecia que estavam a trabalhar estavam insatisfeitas, mas satisfeitas com o facto de terem um salário, conseguirem ter o seu carro, o seu iPhone, as suas coisas, estão bem assim. Os que estavam a estagiar pagavam para estagiar, porque tinham as despesas de deslocação e alimentação. Eu já tinha feito voluntariado em Moçambique e em Cabo Verde enquanto estava na licenciatura, também fiz intercâmbio para Macau e viajei pelo sudeste asiático na altura, portanto eu já tinha uma carga de viagens grande, para a minha idade… queria aproveitar isso e optei, pela primeira vez na vida, por fazer o que gosto e ir viajar.

Mas o teu conceito de viajar é diferente…como é que surgiu a ideia de o fazeres à boleia?

Nunca me fez muito sentido viajar e ficar em hotéis. A partir do momento em que fiz voluntariado fora e estive a viver com os locais, apercebi-me de que é isso que eu quero conhecer e não ir para um resort, ficar o dia todo na piscina e dizer que conheci Cabo Verde, por exemplo, quando na verdade mal saí do hotel. Para isso ficava aqui em Lisboa ou ia para o Algarve. Por isso é que obtei por viajar à boleia, conhecer os locais e depois fazer couchsurfing, que é uma plataforma ou rede social em que tu ofereces a tua casa gratuitamente e as pessoas que ficam lá também te oferecem a delas, no seu país, e tu podes ir ou não, não é obrigatório. A pessoa mostra-te a cidade dela, um bocadinho da cultura, ficas a conhecer muito melhor aquele local. Isto começou por ter pouco dinheiro e continuou porque achei um modo de viajar incrível. Encontramos pessoas tão incríveis e que, depois da boleia, nos perguntam se temos sítio para ficar e nos deixam estar em casa delas. Isto aconteceu-me a ir para Marrocos, pela Europa, aconteceu-me um bocadinho por todo o lado.

ENTREVISTA

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«optei, pela primeira vez na vida, por fazer o que gosto e ir viajar»