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que por vezes trai outras origens, Naruna provavelmente não teria quase cinco minutos de audiência atenta e silenciosa. E sei também que se este texto não tivesse sido escrito por um homem branco, escolarizado, e, acima de tudo, já reconhecido como escritor e famoso em alguns meios, também questionariam seu caráter literário - se a escrita é escrevivência (emprestando o termo de Conceição Evaristo), se não é “arte pura pela arte”, ou no mínimo vindo já com moldura certinha de arte, pode perder pontos. Por isso faço referência a Goodman: por entender que este fruto estranho também é recebido diferentemente por conta de alguns marcadores artísticos que o "referendam". A arte, elemento não absoluto, pode ser e não ser, a depender do contexto, do receptor, do meio.

E se o que é arte é questionável, especialmente a depender “de onde venha”, penso que posso aproveitar a reflexão de Omar Calabrese (1993) acerca da linguagem da crítica de arte, pois este nos explica que existe, na crítica de arte - e também na literária, portanto -, uma tensão entre elementos objetivos (da competência de análise do crítico) e subjetivos. Pensando nestes dois aspectos que não sei se devemos querer separar, objetivamente, vejo uma performance com uma atuação e caracterização excelentes da parte da atriz, que se apropria do texto de tal modo que para mim demarcam uma co-autoria; uma edição de vídeo que deixa a desejar, com cortes que deixam a performance engasgada - felizmente tão boa, que isso não lhe tira a força; uma escrita com uma dicção que fica entre o cotidiano e o poético-literário, que denuncia estar “lá e cá”, com imagens raivosas e belas; uma obra curta, marcante, duradoura. Subjetiva-sucintamente: de arrepiar.

juliana fajardini

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