PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 101

(chamados de lentes, na terminologia coimbrã que então se seguia). Em meio a dias, assim, lacunosos, foi que os alunos, na falta de algumas aulas, criaram o costume de se reunirem perto das arcadas do prédio. E não é difícil entender como esse elemento arquitetônico se tornou tão emblemático para a identidade coletiva dos discentes: naquele inspirador espaço, falava-se de política, de ideias, de poesia... Da vida, enfim, que existia para além da aprendizagem jurídica, vida inspiradora de múltiplos interesses, todos eles compartilhados pelas jovens mentes ali reunidas. Mas, a intensa presença dos alunos do antigo Curso não se confinava no prédio. Ela ultrapassava as suas paredes – e suas arcadas – , repercutindo fortemente na cidade de São Paulo, que não era, à época, sombra da gigante metrópole que se tornaria. Na pequenina e pouco povoada capital paulista, alguns incrementos passaram a surgir, exatamente, em razão dos jovens, cujas variadas necessidades, incluindo-se as pessoais, forçaram a aparição de novos estabelecimentos e serviços. Se a cidade evoluía, o mesmo acontecia com a Faculdade do Largo de São Francisco. Ao longo do século XIX, ela desenvolve-se institucionalmente, tanto por aprimoramentos internos (especialmente, do corpo docente) quanto pelas medidas legais reformadoras do ensino no Brasil. Começava a ganhar corpo a vida inteligente que estava no embrião daquela antiga entidade, na qual uma longa esteira de brilhantismo se desenrolaria com o passar do tempo. A faculdade paulista, desde sempre, revelava forte pendor para a política. Sua comunidade envolvia-se em todas as questões do País, como o Abolicionismo e o Republicanismo, duas grandes bandeiras daquele século. No Largo de São Francisco, Epitácio Pessoa e Ruy Barbosa*, entre outros, galvanizavam a atenção de todos os que viviam as substanciais mudanças por que o Brasil passava. Mas, não era só a política que revelava os notáveis membros daquela casa: em meio a uma rica produção escrita, que lá se robustecia através de periódicos, brotavam os romancistas e poetas. Um deles era Álvares de Azevedo*, de versos românticos pelos quais se expressavam a beleza e a tristeza residentes na alma daquele excepcional jovem – que não deixava de ser, também, um diligente estudante de Direito. Além de tudo aquilo que ostensivamente frutificava na prenhe vida interna d’As Arcadas, uma manifestação mais oculta tomava forma: a “Bucha”. Sociedade secreta Poderes em Revista I 101