(chamados de lentes, na terminologia coimbrã que então
se seguia). Em meio a dias, assim, lacunosos, foi que os
alunos, na falta de algumas aulas, criaram o costume de
se reunirem perto das arcadas do prédio. E não é difícil
entender como esse elemento arquitetônico se tornou
tão emblemático para a identidade coletiva dos discentes: naquele inspirador espaço, falava-se de política, de
ideias, de poesia... Da vida, enfim, que existia para além
da aprendizagem jurídica, vida inspiradora de múltiplos
interesses, todos eles compartilhados pelas jovens mentes
ali reunidas.
Mas, a intensa presença dos alunos do antigo Curso
não se confinava no prédio. Ela ultrapassava as suas
paredes – e suas arcadas – , repercutindo fortemente na
cidade de São Paulo, que não era, à época, sombra da
gigante metrópole que se tornaria. Na pequenina e pouco
povoada capital paulista, alguns incrementos passaram
a surgir, exatamente, em razão dos jovens, cujas variadas
necessidades, incluindo-se as pessoais, forçaram a aparição de novos estabelecimentos e serviços.
Se a cidade evoluía, o mesmo acontecia com a Faculdade
do Largo de São Francisco. Ao longo do século XIX, ela
desenvolve-se institucionalmente, tanto por aprimoramentos internos (especialmente, do corpo docente)
quanto pelas medidas legais reformadoras do ensino no
Brasil. Começava a ganhar corpo a vida inteligente que
estava no embrião daquela antiga entidade, na qual uma
longa esteira de brilhantismo se desenrolaria com o passar
do tempo. A faculdade paulista, desde sempre, revelava
forte pendor para a política. Sua comunidade envolvia-se em todas as questões do País, como o Abolicionismo
e o Republicanismo, duas grandes bandeiras daquele
século. No Largo de São Francisco, Epitácio Pessoa e
Ruy Barbosa*, entre outros, galvanizavam a atenção de
todos os que viviam as substanciais mudanças por que
o Brasil passava. Mas, não era só a política que revelava
os notáveis membros daquela casa: em meio a uma rica
produção escrita, que lá se robustecia através de periódicos, brotavam os romancistas e poetas. Um deles era
Álvares de Azevedo*, de versos românticos pelos quais
se expressavam a beleza e a tristeza residentes na alma
daquele excepcional jovem – que não deixava de ser,
também, um diligente estudante de Direito.
Além de tudo aquilo que ostensivamente frutificava
na prenhe vida interna d’As Arcadas, uma manifestação
mais oculta tomava forma: a “Bucha”. Sociedade secreta
Poderes em Revista I 101