Depois de gritarem palavras de ordem como “respeito” e “família”, deram-se as mãos e rezaram o Pai-Nosso, encerrando a oração com vivas a Jesus Cristo. Muitos dos presentes dirigiram os olhos ao único parlamentar assumidamente homossexual ali presente, à espera de uma reação. Wyllys teve ganas de gritar “Canalhas!”, mas se conteve. “Eu teria sido trucidado. Fazia parte da estratégia deles que eu reagisse, mas fiquei quieto. Foi maturidade. Se fosse no início do primeiro mandato, eu teria respondido.”
Ainda comendo, notou como em geral os LGBTs saem cedo de casa, numa tentativa de assumir a identidade mais livremente, e encontram na rede de amigos a família que deixaram para trás. “Acho que a ruptura com a família é uma ferida no inconsciente coletivo gay. Até por isso acho tão importante aprovar o casamento igualitário. A gente tem necessidade de recompor essa família. [...] “Por mais que a gente vire arrimo de família desde cedo, a nossa vontade, no fundo, é ser amado feito os outros, sem ter que fazer tanto esforço.”
Quando estive em Alagoinhas, seu irmão caçula disse que Wyllys é uma incógnita. Ninguém imaginava que entraria na política. “Foi, encaixou e pegou. Amanhã ele surge com outra ideia.”
Congresso Nacional deveria garantir essas conquistas numa lei. “Nós não temos que ficar com a união estável enquanto o restante da população tem direito ao casamento civil. Isso seria uma cidadania de segunda categoria”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo.
Representantes da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) defendem punições severas para manifestações de homofobia. Já Wyllys sustenta que casos de injúria e atos discriminatórios não violentos poderiam ser passíveis de penas socioeducativas, para ele mais eficazes do que a cadeia. “Não acho que tem que mofar na prisão só porque me chamou de veado. Este não é um crime hediondo indefensável.”
A pauta costuma causar cizânia na comunidade. Em resposta aos que o criticam por isso, Wyllys afirma que não tem medo de se contrapor. “Não sou deputado, estou deputado. Se não quiser, não vota em mim.” E conclui citando Muito Romântico, de Caetano Veloso: Sou o que soa, eu não douro a pílula.
Até quem admira seu estilo acha que nem sempre o parlamentar
estilo acha que nem sempre o parlamentar se sai bem. Militante há trinta anos e membro da ABGLT, Toni Reis imagina o grau de solidão e estresse implicado em ocupar uma cadeira no Congresso e ser vítima constante de difamações nas redes sociais, como ocorre com Wyllys. Ele elogia o caráter “franco e sincero” do deputado, mas pondera que essas qualidades no Congresso possam se converter em defeitos. “Jean é oito ou oitenta, e na política muitas vezes é necessário dar um passo atrás para depois avançar.” Ele acha que Wyllys fala muito e tem dificuldade de ouvir. “Acaba fazendo política mais para fora do que para dentro.”
E
ra final de junho e
e o céu carioca es-
tava nublado. Sentado a uma mesa de canto do restaurante Felice Caffè, em Ipanema, entre goles de um suco de laranja e garfadas de um frango thai, Wyllys avaliou estar mais comedido no segundo mandato. O maior exemplo disso teria ocorrido naquele mês.
Indignados com a artista transexual que simulou ser Cristo na cruz durante a Parada LGBT, deputados evangélicos suspenderam uma sessão para protestar. Depois de gritarem palavras de ordem como “respeito” e “família”, deram-se as mãos e rezaram o Pai-Nosso, encerrando a oração com vivas a Jesus Cristo. Muitos dos presentes dirigiram os olhos ao único parlamentar assumidamente homossexual ali presente, à espera de uma reação. Wyllys teve ganas de gritar “Canalhas!”, mas se conteve. “Eu teria sido trucidado. Fazia parte da estratégia deles que eu reagisse, mas fiquei quieto. Foi maturidade. Se fosse no início do primeiro mandato, eu teria respondido.”