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ex-prefeita de São Paulo, seu notório desafeto.

A bancada religiosa da Casa considera Wyllys uma espécie de encarnação do Tinhoso, ou, como alguém já o definiu, o “Porteiro do Capeta”. Wyllys gosta de recorrer à metáfora bíblica do jovem pastor Davi que enfrentou e venceu o gigante Golias para descrever a correlação de forças no Congresso: “Eu tenho apenas um estilingue na mão.”

Para Bolsonaro, Wyllys não passa de “um ativista gay com projetos absurdos que não somam nada para que se valorize a família”. Ele assegurou que não é contra os homossexuais, contanto que permaneçam escondidos e sem fazer alarde. “Quer ser feliz entre quatro paredes? Problema deles. Quero mais que fiquem roucos de tanto uivar de felicidade com seus parceiros”, disse, rindo. O problema, pros-seguiu, é que a “pauta gay que vivia no armário resolveu mostrar as asinhas”.

A indecência, nos termos do parlamentar, teria começado com o famigerado “kit gay” preparado pelo Minis-tério da Educação. (Em maio de 2011, após pressão do ultradi-reitista e católico Bolsonaro e da bancada evangélica – com quem ele costuma votar em bloco –, a presidente Dilma Rousseff vetou a distribuição do material anti-homofobia nas escolas públicas.)

Quando perguntei sobre o projeto de lei de Wyllys que propõe regulamentar a profisssão das prostitutas, Bolsonaro soltou uma gargalhada. “Que maravilha! Um pai vai dizer para o outro: ‘Quanto sua filha está ganhando? Dois mil, só? A minha tira 5 mil.’” O assessor fez um sinal para que ele encerrasse a conversa. Ao se levantar, o deputado disparou: “A minoria gay no Brasil agora se julga semideus! Tem que rir. Ha-ha-ha!”

Antes da chegada de Wyllys à Câmara, a senadora Marta Suplicy já defendia os direitos da comunidade LGBT havia muito tempo. Recebeu desse grupo, inclusive, a alcunha de “Nossa Senhora das Bichas”. Mas sua figura não provocava tanta rejeição no Congresso. “Marta é friendly, não lésbica. Isso muda tudo”, observou Wyllys. “No meu caso, a pauta não é só política. É a minha vida que está em jogo. Então é óbvio que vou me jogar com muito mais coragem.”

vai dizer para o outro: ‘Quanto sua filha está ganhando? Dois mil, só? A minha tira 5 mil.’” O assessor fez um sinal para que ele encerrasse a conversa. Ao se levantar, o deputado disparou: “A minoria gay no Brasil agora se julga semideus! Tem que rir. Ha-ha-ha!”

Antes da chegada de Wyllys à Câmara, a senadora Marta Suplicy já defendia os direitos da comunidade LGBT havia muito tempo. Recebeu desse grupo, inclusive, a alcunha de “Nossa Senhora das Bichas”. Mas sua figura não provocava tanta rejeição no Congresso. “Marta é friendly, não lésbica. Isso muda tudo”, observou Wyllys. “No meu caso, a pauta não é só política. É a minha vida que está em jogo. Então é óbvio que vou me jogar com muito mais coragem.”

W

yllys tinha 6 anos quando sentiu

sentiu pela primeira vez que era diferente.

A pedido da mãe, então lavadeira (depois ela também trabalhou como empregada doméstica), o menino foi até a venda do seu Deraldo. “Me dê seis pães”, disse, na ponta dos pés, os olhos na altura do balcão, caprichando na concordância. Um sujeito, com um copo de de pinga na mão, escrutinou o moleque e

perguntou alto, com ironia. “Seis pães? Você é estudado ou veado?”

A freguesia se fartou de rir. O menino voltou para casa com um aperto no peito. Desde essa época, ele passou a ouvir toda sorte de humilhações – “Pare de rebolar!”, “Maricas!”, por aí vai. Dona Inalva se “enraivava dessas manias idiotas do povo”, conforme me disse, e saía em defesa do rebento.

E seu José? “Meu pai nunca teve apreço por mim por causa do meu jeito. Tinha vergonha”, disse Wyllys. “Fazia planos para meu irmão George, nunca pra mim.” George é hoje capitão da Polícia Militar em Salvador. Manca ligeiramente de uma perna, resquícios de um acidente de carro. E, acanhado, cora ao falar.

os últimos anos houve avanços para o movimento LGBT no Brasil:

N

para o movimento LGBT no Brasil: em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu juridicamente a união estável homoafetiva, e o Conselho Nacional de Justiça obrigou todos os cartórios do país a cumprir a decisão do STF, ou seja, realizar as uniões estáveis de todos os casais do mesmo sexo e fornecer a certidão de registro delas. Wyllys conside-

ra as decisões relevan-

tes, mas acredita que o