A revista que você tem em mãos trata do patrimônio da cidade de Curitiba e por isso é importante que você tenha uma boa ideia sobre o que é patrimônio antes de continuar a sua leitura. Em primeiro lugar vamos esquecer aquela ideia de que patrimônio quer dizer prédio antigo, estátuas de bronze e construções coloniais. Tudo isso pode ser patrimônio, assim como muitas outras coisas, incluindo roupas, culinária típica, danças e até maneiras tradicionais de se fazer alguma coisa, como o jeito tradicional de se fazer barreado no litoral do Paraná, por exemplo.
Se tudo isso pode ser patrimônio, o que une todas essas coisas? Em primeiro lugar temos que pensar que o patrimônio é uma tentativa de preservar um pedaço da história de uma comunidade, seja ela um país, uma região ou só uma cidade. Mas não basta algo ser uma relíquia do passado para ser considerado patrimônio, tem também de ser relevante para a sociedade que vai representar, tem de ser algo que, além de ser parte da história da comunidade, seja entendido por essa comunidade como parte de sua história.
Já que o patrimônio acaba representando a história de uma comunidade, ele pode ser usado para “forjar” ou adulterar essa história. Todos já ouvimos que Curitiba é a “capital mais europeia do Brasil”. Será que isso nos diz alguma coisa sobre o patrimônio da cidade? Sim, há toda uma tradição em Curitiba de se exagerar o que é relacionado à Europa e ignorar patrimônios negros ou indígenas. Muitas vezes se repete o velho mito de que não houve escravidão na cidade, ou que ela foi irrelevante. Esta edição da revista vai tratar do patrimônio negro na cidade, então a equipe editorial espera quebrar um pouco essa imagem.
Aí chegamos em um outro ponto importante: Quem decide o que é patrimônio? Já que o patrimônio físico e cultural é protegido por lei, não podemos tratar todo prédio antigo ou prática cultural como patrimônio, não há dinheiro para isso, e normalmente quem toma a decisão do que entra como patrimônio é o governo. Isso, é claro, implica em consequências; o governo pode escolher (como vimos no exemplo acima) uma parte da história para enfatizar ou para relegar ao esquecimento.
Por isso é importante que vejamos o patrimônio também com um olhar crítico: Por que isso é um patrimônio? Por que aquilo não é um patrimônio? Refletindo assim temos mais chance de preservar e valorizar também aquilo que escapa da história oficial, e dar mais significado real àquilo que já é tido como patrimônio. Agora que a ideia de patrimônio já foi discutida, a equipe espera que a leitura do resto da revista seja mais proveitosa e lhe traga reflexões mais críticas. Boa leitura!
O que é patrimônio ?
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