Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 42

Na saúde o indivíduo pode guardar a maldade dentro de si, para usá-la contra forças externas que ameaçam o que ele julga valioso. A agressividade, tem nesse caso, um valor social. Esse valor é dado pelo fato de aqui, em contraste com a agressividade maníaca ou delirante, ficar preservada a objetividade, e assim o inimigo que, para ser atacado, não precisa ser amado (WINNICOTT, 2000, p. 295).

Nesse sentido, o mesmo autor aponta a relação dos aspectos agressivos e seu possível caráter terapêutico no enfrentamento do cotidiano e daquilo que pode ameaçar a criança. Assim, percebemos movimentos saudáveis no enfrentamento a aspectos da pandemia do coronavírus expressos nos discursos dessas crianças.

É comum dizer que as crianças dão escoamento ao ódio e a à agressão nas brincadeiras, como se a agressão fosse alguma substância má de que fosse possível uma pessoa livrar-se. Isso é verdade em parte, porque o ressentimento recalcado e os resultados de experiências coléricas podem ser encarados pela criança como uma coisa má dentro dela. Mas é mais importante afirmar essa ideia dizendo que a criança aprecia concluir que o os impulsos coléricos ou agressivos podem exprimir-se num meio conhecido, sem o retorno do ódio, e da violência do meio para a criança. Um bom meio ambiente, sentiria a criança, deveria ser capaz de tolerar os sentimentos agressivos, se esses fossem expressos de uma forma mais ou menos aceitável. Deve-se aceitar a presença da agressividade, na brincadeira da criança, e está sente-se desonesta se o que está presente tiver de ser escondido ou negado. (WINNICOTT, 1982, p. 161 e 162).

Como vimos, a psicanálise da escola inglesa de Winnicott entenderá que os elementos agressivos e destrutivos fazem parte do desenvolvimento saudável do indivíduo. Se pensarmos nas frustrações e castrações, interditos e impeditivos necessários para o nosso desenvolvimento como sujeitos, podemos relacionar também a castração promovida pelo COVID-19 como uma espécie de entrada do terceiro na relação triangular, responsável pelo atravessamento da realidade constituinte.

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PATHOS / V. Especial , Set. 2020 41