Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 41

Assim, como o caso acima citado, cada criança participante da pesquisa escolhe um personagem e se identifica com ele por algum motivo, fator esse provavelmente relacionado a história de cada criança. Vale ressaltar que a identificação não necessariamente ocorrerá por uma situação traumática como no caso ilustrado. O que enfatizamos é a ligação que cada criança estabelece, traumática ou não, com cada personagem.

Uma preocupação constante em pais, professores e educadores é se alguns desenhos e personagens infantis, envolvendo lutas, guerras, brigas e mortes, poderiam de alguma forma prejudicar as crianças, tornando-as mais agressivas e violentas. Foi percebido no presente discurso elementos de agressividade, envolvendo lutas, brigas, chutes, porradas e pontapés. De fato, ao entrarem em combate com o coronavírus, as crianças aqui representadas apontam elementos agressivos, duelos e extermínio do vírus através da morte, porém não entendemos tal manifestação como algo patológico e preocupante, pelo contrário, somos acometidos por satisfação ao percebermos tais elementos agressivos enquanto capacidade egóica de enfrentamento.

Em dado momento na construção da fantasia dessas crianças, o isolamento aparece direcionado ao vírus e não ao ser humano. Em alusão a quarentena e ao distanciamento social vivido, podemos supor que a forma de enfrentamento fantasiosa de parte das crianças foi ofertar ao vírus aquilo que elas próprias estão enfrentando, neste caso o isolamento e o sentimento de estarem presas. Em uma espécie de movimento reativo, mas ao mesmo tempo reparatório, a criança em sua fantasia inverte a ordem atual dos fatos, aprisionando o vírus e libertando as pessoas. Assim, poderíamos inicialmente supor que tais crianças usariam assertivamente o elemento de agressividade para resolver seus conflitos:

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 40