Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 39

Análise:

Nesse discurso, de maneira mais clara, encontramos o brincar e a fantasia no ser e fazer das crianças participantes da pesquisa. Esse grupo de crianças representadas nesse discurso denota identificação com personagens e super-heróis de histórias e desenhos animados.

As crianças conseguem aqui demonstrar a importância de tais figuras fictícias no manejo das angústias infantis. Tais figuras poderosas emprestam sua força e seus poderes para que de forma mágica os pequeninos possam utilizá-los na elaboração de seus conflitos, surgindo nesse momento um processo de identificação.

Segundo Laplanche e Pontalis (2001), o processo de identificação seria um fenômeno psicológico em que o sujeito assimila um aspecto, um atributo ou uma propriedade do outro. Essa transformação ocorreria de forma parcial ou total, sendo essa a base para a possibilidade de constituição do sujeito.

Segundo Freud (1996), a identificação seria um elemento inconsciente presente no ser humano, ao que enfatiza que tal fenômeno não poderia ser considerado como uma simples imitação. Tal processo é entendido como um recado do inconsciente, uma forma de trazer à tona elementos reprimidos. Por vezes, quando a identificação é impedida de ocorrer por motivos repressores, alguns sintomas e atuações poderiam ser manifestados pelo individuo, uma espécie de reação defensiva frente a tais identificações que moralmente e superegoicamente não foram autorizadas a ocorrer. A identificação estaria então ligada a etiologia de cada pessoa, o que poderia justificar aqui os motivos que levaram as crianças da pesquisa a não se identificarem com os mesmos super-heróis e personagens.

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 38