Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 22

Esse cuidado e rigor metodológico desenvolvido vai ao encontro do que Costa e Viegas (2010) defendem enquanto pesquisa empírica:

Defendemos que o investigador não faça, simplesmente, o mundo do outro caminhar em sua direção, pois nesse caso, o pesquisador pode, confortavelmente, continuar centrado em sua posição (em sua tolerância). A exigência é bem maior: é utilizar as palavras do pesquisador para descrever o mundo do outro, tal como este o vivencia, o que requer que o pesquisador transite no território alheio. Nele não cabem todas as perguntas que circulam no mundo do pesquisador, mas sim aquelas que fazem sentido no mundo do outro (p. 250).

Despret (2001), nos oferta uma experiência extremamente válida em que o pesquisador tem a chance de se confrontar com algo estranho e nada familiar, se deparando com a riqueza de um novo saber, empírico, vivo e real. Para tanto, o elemento necessário para qualquer pesquisador seria a capacidade de ser sempre surpreendido.

Entendemos que o DSC não necessariamente apresentará um discurso único para todas as crianças do Brasil, mas sim a possibilidade de entendermos tal discurso como um parâmetro do que pensam e sentem as crianças no enfrentamento do COVID-19. A beleza do procedimento estaria associada a construção do fenômeno e do surgimento de saberes observados, enfatizando os saberes empíricos da pesquisa de campo:

O roteiro que o pesquisador irá percorrer pode levá-lo a ultrapassar os limites de sua área de conhecimento (...) Assim, se o que justifica a pesquisa no campo é o contato com o fenômeno tal como ele se dá, (e não como ele é produzido em condições artificias), o investigador ao realizar o seu trabalho, deve se deixar levar pelo processo, o que significa muitas vezes, o encontro com histórias que se cruzam, mas, necessariamente, que não tem relações causais, que complexificam o entendimento. Por conseguinte, o pesquisar de campo não é aquele que, ao final, demonstra alguma coisa, mas é aquele que, ao apontar novos indícios, cria incertezas. (COSTA e VIEGAS, 2010, p. 242).

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PATHOS / V. Especial , Set. 2020 21