Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 51

Kaas (2015) descreve o cissexismo como uma forma específica de sexismo que promove o apagamento de pessoas trans, a partir da negação de identidades e corpos trans como legítimos e inteligíveis. A autora pontua como cissexismo todo processo de deslegitimação das vivências trans, denunciando que esta forma específica de opressão parte da cisnormatividade e consequentemente, do grupo identitário nomeado como cisgênero.

O termo cisgênero (cis) é o antônimo do termo transgênero (trans). “Cis-”, prefixo de origem latina, significa “do mesmo lado” (Oxford, 1968, p. 327), fazendo oposição ao prefixo “Trans-”, que significa “do outro lado”. Grosso modo, com intenção didática, pode-se dizer que a pessoa cis é aquela que não é trans, isto é, sua identidade de gênero (autocompreensão de gênero) coincide (está do mesmo lado) àquela designada ao nascimento, diferente da pessoa trans, aquela que sua identidade de gênero não coincide (está do outro lado) àquela designada ao nascimento. O termo cisgênero é proposto por pessoas trans como nomenclatura preferencial ao termo “biológico” (mulher/homem biológico) que surge da literatura médica, uma vez que

(…) argumenta-se que as pessoas trans* também são biológicas e que o termo é desumanizador na medida em que divide quem é trans* de quem não é através de critérios corporais essencialistas. Uma vez que ser trans* é, sobretudo, um fator social e não biológico, o uso do termo cisgênero inaugura um projeto de visibilidade social que procura elevar as pessoas trans* ao mesmo status de humano das pessoas não-trans* (cisgêneras). (Kaas, 2015).

 

A análise crítica da cisgeneridade enquanto conceito é importante na medida em que nasce de um movimento de resistência à dominação cisnormativa com a função de desnaturalizar a cisgeneridade, propondo a compreensão desta enquanto possibilidade e não regra. Além disso, coloca em perspectiva e evidencia o sistema que (re)produz a opressão ao invés de debater atributos do grupo que sofre a opressão.

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