Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 52

Humanos são seres integrados a contextos sociais marcados pela cultura e cada cultura apresenta regras e condutas prescritivas, com a finalidade de regular, disciplinar e controlar práticas sociais de acordo com padrões normatizados. Segundo Foucault (2012), o sexo é peça central nesta dinâmica, uma vez que

(...) servimo-nos dele [do sexo] como matriz das disciplinas e como princípio das regulações. É por isso que, no século XIX a sexualidade foi esmiuçada em cada existência, nos seus mínimos detalhes; foi desencavada nas condutas, perseguida nos sonhos, suspeitada por trás das mínimas loucuras, seguida até os primeiros anos da infância. (…) De um polo a outro dessa tecnologia do sexo escalona-se toda uma série de táticas diversas que combinam, em proporções variadas, o objetivo da disciplina do corpo e o da regulação das populações (p. 159).

 

Assim, os discursos de conformação do sexo, enquanto produtos de mecanismos de produção da verdade, visam a regulação e o controle dos corpos e das subjetividades por meio da padronização dos modos de ser e agir das pessoas. De acordo com Preciado (2011), a sexopolítica

é uma das formas dominantes de ação biopolítica no capitalismo contemporâneo. Com ela, o sexo (os órgãos chamados “sexuais”, as práticas sexuais e também os códigos de masculinidade e de feminilidade, as identidades sexuais normais e desviantes) entra no cálculo do poder, fazendo dos discursos sobre o sexo e das tecnologias de normalização das identidades sexuais um agente de controle da vida (p.11).

 

À serviço de tal controle está a heteronormatividade ao normatizar, legitimar e privilegiar a heterossexualidade como constitucional e natural aos seres humanos, respondendo com repressão e marginalização aos comportamentos e desejos que não se submetem à norma heterossexual (Cohen, 1997).

É a divisão binária do sexo (fêmea/macho) alinhada a um respectivo gênero binário (feminino/masculino) que pressupõe uma complementaridade entre os sexos, originando a heterossexualidade compulsória, que normatiza uma ordem social e exige dos sujeitos um encadeamento obrigatoriamente heterossexual entre sexo-gênero-desejo (vagina-feminino-homem ou pênis-masculino-mulher).

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 51