Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 21

Cueto e Silva (2018) apontam ainda para a forma como os discursos científicos são recebidos por uma comunidade e interpretados muitas vezes em uma chave moral, preconceituosa e arcaica, citando exemplos de epidemias como a febre amarela, a cólera e a peste bubônica e ainda o papel da imprensa como reprodutor de discursos moralizantes acerca da saúde.

Quanto às representações sociais associadas à Aids, Jodelet (2001) apresenta duas que teriam se estabelecido a partir do surgimento da doença e antes que as pesquisas científicas trouxessem maiores explicações sobre a mesma. Dessa forma, criaram-se “teorias” acerca da doença, uma do tipo moral/social e outra biológica; a respeito da teoria de viés mais moral/social tratava-se de uma concepção que surgiu socialmente de forma espontânea em relação à Aids, entendendo a epidemia como punição e consequência direta de “irresponsabilidades” sexuais e permissividade, principalmente no meio LGBTQIA+, em especial entre os homens gays, transsexuais e travestis. Esse discurso também encontrou reverberação em muitas instâncias religiosas que compreenderam a doença como castigo de Deus e pecado. Outra teoria que permeia o imaginário social sobre o surgimento da Aids foi a concepção chamada pela autora de “visão biológica” (Jodelet, 2001, p.2), pela qual entendia-se que a contaminação poderia se dar por qualquer tipo de líquido corporal como suor e saliva, reatualizado de certa forma uma concepção arcaica da “teoria dos humores”. Nesse tipo de concepção há a reativação de representações associadas também à doença mental, uma vez que o traço presente da teoria dos humores traz consigo a noção de que a degeneração afeta os fluídos corporais como o sangue e pode se dar por contágio com outros líquidos corporais. 

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 20