Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 103

No contexto das políticas públicas, uma prática psicológica interessada apenas na interioridade não se mostra eficaz, visto que se lida com um público cada vez mais diversificado e plural. Se antes os psicólogos e psicólogas eram senhores e senhoras de seus consultórios, agora eles e elas estavam no encontro cotidiano, constante e permanente com outras perspectivas de homem e de mundo.

            De acordo com Ferreira Neto (2011), a subjetividade passou a ser compreendia não como interioridade, mas efeito de uma rede de processos que, não é determinado pelo social, mas conectado ao mundo, ao tempo e ao espaço, ou seja, remete a um sujeito nascido das tensões dos processos sociais, culturais, econômicos, tecnológicos...

 

Jai: “Eu venho aprendendo muito com isso e eu venho me fazendo psicólogo nesse lugar. Cada vez mais eu me reconheço, às vezes, eu acho que faço coisas que as pessoas acham que eu não deveria fazer como psicólogo, que as pessoas acham que psicólogo não pode fazer isso. Coisas como as que eu disse aqui que não ferem à nossa ética, claro, de modo algum. Mas eu faço porque eu acho que eu sou gente. Eu não faço por, é muito bom deixar claro, eu não faço ‘por’, eu faço ‘com’ a pessoa. “Você quer fazer sua matrícula?”, “Quero”, então você vai comigo. Você vai comigo e quem vai falar é você. Eu é que vou com você. Estou lá para te acompanhar, caso você precise de alguma coisa, caso você seja negada, caso não te respeitem, eu estou lá, nesse sentido. Mas é você quem vai fazer, você quem vai pedir, é você quem vai dizer seu nome, você quem vai dar seus documentos, vai dizer o horário que quer, não sou eu que vou dizer, eu vou tá lá com você, mas é você quem vai fazer. Então, acho que é isso” (sic).

 

            Diante do cotidiano face a face com a LGBTfobia, Jai nos narra sobre fazer-se psicólogo não a partir do que outros acham, mas sim, a partir de um posicionamento ético, político e estético de “fazer com”. A pergunta de Cristine Mattar (2016), - Afinal, para o que é chamado o psicólogo hoje? – encontra eco na narrativa de Jai, uma prática psicológica não fascista que “faz por”, mas um profissional de psicologia que possibilita ao outro falar seu nome e que se impõe diante dos processos de negação os quais tornam corpos e subjetividades indigentes.

            A experiência de ser profissional de psicologia em face à LGBTfobia diz não apenas sobre o modo como a Psicologia e a prática psicológica podem ser reinventadas. Lembremos: “uma experiência é alguma coisa que nos faz sair transformados” (Foucault, 1980/2010).

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 102