Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 102

As profissionais de psicologia entrevistadas possuíam prática profissional nesses aparatos de combate a homofobia. A Psicologia foi colocada face à face com a LGBTfobia. Aurora, uma de nossas interlocutoras narra seu impacto inicial:

 

Aurora: “Pois é, eu lembro que uma das primeiras coisas de quando eu comecei a trabalhar lá é que não tinha parâmetro nenhum. Eu não conhecia ninguém que tinha feito esse tipo de trabalho. E aí, fui fazendo levantamento bibliográfico, fui assistindo muitos vídeos, localizei, que eu não sabia da existência, aquela cartilha do CFP “Diversidade Sexual”, e aí eu devorei aquilo no sentido de me dar sustentação no que eu estava fazendo. . . Eu sabia que a proposta era de que a gente não fizesse psicoterapia lá. O meu trabalho como psicóloga lá foi também ajudar a estruturar minimamente uma rede de referência básica” (sic).

           

No imaginário coletivo profissionais de psicologia são reduzidos, muitas vezes, a psicoterapeutas, aqueles que atendem num belo consultório, com hora marcada e semanalmente. Esta fábula construída e alimentada historicamente visto que após a regulamentação da profissão no Brasil, em 1962, os profissionais se isentaram de discutir problemas e projetos sociais, visto que seu objeto de trabalho era o psicológico reduzido ao intrapsíquico (Bock, 2003).

            O encontro da Psicologia com populações tornadas indigentes se dá a partir de 1980, com a redemocratização, a Constituição Cidadã, o reconhecimento e o investimento no combate a problemas sociais, sendo assim, o campo das políticas públicas tornou-se grande empregador de profissionais das ciências humanas, sociais e da saúde (Ferreira Neto, 2011).    

 

Paloma: “Eu sempre vou numa postura, desde sempre, de que as teorias, elas dão uma base, mas não é através delas que eu vou ver o sujeito. Ele que vai dizer para mim quem é, como é e é a partir dele que eu vou sentir como fortaleço ele, onde é que ele precisa falar de alguma dor, mas muito sem tá diagnosticando ou enquadrando numa perspectiva teórica. Não! Ela me dá ferramentas para vislumbrar, mas quem vai me dizer é esse sujeito, então eu vou sempre nessa perspectiva” (sic).

           

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PATHOS / V. 07 n.01, 2021 101