Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O diálogo aqui proposto pretendeu lançar luz a uma possível perspectiva teórico-clínica das diversidades identitárias de gênero e suas interlocuções com as perdas e o luto e enfatizar a importância em transcender as construções cisheteronormativas, especialmente no que diz respeito ao cuidado em saúde e contribuir para o desenvolvimento de conhecimento estratégico baseado em evidências, a favor de fornecer subsídios fundamentados em dados empíricos, à serviço de melhorias na qualidade dos serviços de saúde oferecidos para a população trans e seus familiares.

Quando uma pessoa é estigmatizada com base em uma hipotética e fantasiosa relação entre identidade de gênero e características do corpo, este deixa de ser um meio para ser um fim em si mesmo, como um processo social de genitalização das pessoas. Ao reduzir a legibilidade atribuída a alguém com base em seus órgãos genitais, abandona-se a pluralidade da diversidade humana fazendo uso de um argumento essencialista e violentamente punitivo. É urgente que essa dinâmica se movimente em direção à ressignificação, a partir do questionamento crítico sobre a cisheteronormatividade compulsória do ensino à prática dos profissionais de saúde.

É importante reforçar que propomos esta reflexão a partir de um olhar limitado, enquanto mulheres que lidam socialmente como cis, brancas, profissionais da saúde e acadêmicas. Não nos reservamos o direito de falar por ninguém, mas de unir nossa voz, a partir do nosso espaço de observação do mundo, em uma luta que é de responsabilidade coletiva: a desconstrução da cisheteronormatividade e da cisgeneridade enquanto destino natural de corpos e a ampliação das construções científicas que relacionam gênero às perdas e ao luto.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 68